quarta-feira, 29 de novembro de 2023

O canto da sereia

Recentemente, enquanto retornava do trabalho e ouvia uma emissora local no rádio do carro, fiquei espantado com o conteúdo de uma entrevista. Afirmavam, de maneira enfática, que o consórcio é uma modalidade de investimento, o que não é correto. Na minha compreensão, trata-se de uma forma de financiamento, e classificá-lo como investimento pode representar um equívoco conceitual significativo.

De acordo com o Banco Central do Brasil, o consórcio é definido como uma união ou associação de pessoas físicas e jurídicas, organizadas em grupo, com o objetivo de facilitar a aquisição de bens materiais por meio do autofinanciamento. É crucial prestar atenção a este conceito, especialmente ao termo “autofinanciamento”, que implica que os membros do grupo se financiam de forma coletiva, sem envolver uma instituição financeira externa.

O “Novíssimo Dicionário de Economia”, uma publicação clássica organizada e supervisionada pelo professor Paulo Sandroni, define o consórcio como uma união de pessoas físicas ou jurídicas com interesse na aquisição de bens específicos, mediante a formação de um fundo comum. Quando há a intermediação de uma instituição específica em um consórcio, é necessário o pagamento de uma taxa de administração. Essa taxa varia conforme os contratos estabelecidos, mas o valor final desembolsado pelo consorciado será maior do que o valor real do bem adquirido.

Definitivamente, o consórcio não é um investimento, mas sim uma modalidade de financiamento. Isso, contudo, não implica que seja uma opção ruim. Ao contrário, dependendo da análise e das condições de financiamento disponíveis, especialmente as taxas de juros, o consórcio pode ser uma alternativa viável de financiamento. Já recorri ao consórcio anteriormente e, se necessário, considerarei utilizá-lo novamente. Contudo, sob nenhuma hipótese considerarei o consórcio como um investimento, nem aceitarei ser convencido do contrário por um vendedor.

Basta considerar que, em um consórcio, você possui o que é denominado “carta de crédito”, que lhe confere o direito de adquirir um bem. Mensalmente, contribui-se com uma parcela referente ao valor da carta de crédito, acrescida de uma taxa de administração, que pode alcançar até 20% do valor do bem. Assim, para um bem que custa 100, você pode acabar desembolsando 120, ou seja, pagando mais do que o valor nominal. Há duas diferenças fundamentais entre o consórcio e o financiamento. A primeira é que, com o financiamento, você tem acesso imediato ao bem, enquanto no consórcio isso depende de um sorteio mensal ou de um lance, semelhante a um leilão.

A segunda diferença importante é o custo final do bem. No consórcio, esse custo inclui o valor do bem acrescido da taxa de administração e outras despesas, como as cartorárias, que geralmente são significativas. Já no financiamento, o custo final depende da taxa de juros, de impostos contratuais e, quando necessárias, despesas de cartório. Em determinados momentos, a conjuntura econômica pode fazer com que o consórcio se apresente como uma opção mais viável em comparação ao financiamento, enquanto em outros períodos, o financiamento pode ser mais vantajoso.

Não é minha intenção demonizar os consórcios, apenas quero esclarecer que eles representam uma forma de financiamento, e não um investimento propriamente dito. Este esclarecimento é crucial para evitar que as pessoas sejam seduzidas pelo “canto da sereia” e compreendam que, na maioria dos casos, poupar dinheiro é uma opção mais vantajosa do que aderir a um consórcio.


quarta-feira, 22 de novembro de 2023

A realidade nua e crua

As estatísticas econômicas são ferramentas essenciais para revelar verdades em meio a eventos frequentemente distorcidos pela narrativa de certos agentes políticos. Em muitas ocasiões, a realidade é velada sob discursos suaves que promovem uma ilusão de prosperidade e felicidade. É através das estatísticas que se pode desmascarar tais distorções e apresentar uma perspectiva mais precisa e factual.

Mesmo diante de estatísticas objetivas, ainda existem agentes políticos capazes de distorcer os resultados, continuando a pregar uma realidade inexistente. Quando índices de desenvolvimento são divulgados, indicando que o país, o estado ou o município são excelentes lugares para viver, onde as pessoas são ricas e prósperas, raramente questiona-se se a população concorda com esses resultados. Pouco se pergunta se as pessoas se consideram de boa saúde ou se declaram felizes.

Com frequência, prevalece a narrativa daqueles que têm mais voz, geralmente a elite política da região, independentemente de serem ou não parte da elite econômica. Na maior parte dos casos, a elite política tende a atender aos desejos e anseios da elite econômica. Esta observação não é uma análise de esquerda ou revolucionária; é simplesmente um reflexo do que ocorre em nosso cotidiano.

O IBGE divulgou recentemente novos dados do Sistema de Contas Regionais, que mostram a evolução do Produto Interno Bruto (PIB) dos estados. O PIB representa, de certo modo, a riqueza gerada em cada estado. Geralmente, o maior foco recai sobre os valores absolutos e nominais, pois as análises relativas e suas decomposições podem despertar curiosidade e até espanto na população.

Espera-se que o crescimento do PIB, que reflete o crescimento da economia, beneficie a todos. Com isso, os trabalhadores deveriam receber salários reais mais elevados, os empresários teriam lucros reais maiores, e o setor público poderia arrecadar mais impostos, aplicando-os eficientemente em benefício da coletividade. Em teoria, todos ganhariam. No entanto, a realidade nem sempre corresponde a essas expectativas.

No ano de 2021, o PIB cresceu em todos os estados do país. O crescimento foi em valores nominais, mas houve de fato um crescimento. As questões cruciais são: como e para quem esse crescimento ocorreu? É essencial compreender e debater esses aspectos para que o crescimento possa ser um motor do desenvolvimento. O aumento do PIB é indicado em termos monetários, mas a qualidade de vida é medida pelo acesso da população a bens e serviços. Alguns podem argumentar que mais dinheiro possibilita o acesso a mais bens e serviços, mas isso não é uma certeza. Se os preços subirem muito esse aumento de renda pode não se traduzir em um maior poder de compra.

Ao analisar o índice de volume do valor bruto da produção do Paraná, usando 2010 como referência, constata-se que o volume produzido em 2021 foi inferior ao de 2010. Houve uma recuperação em relação aos anos anteriores, que registraram uma queda substancial de volume, mas ainda assim, o volume permanece menor. Contudo, o valor monetário aumentou ano a ano. Isso representa algo positivo?

Neste mesmo período, os salários pagos aos trabalhadores (que constituem a grande maioria da população) perderam participação relativa no PIB. Em 2010, os salários representavam 31,0% do PIB estadual, e em 2021, essa porcentagem caiu para 30,5%. O que aumentou foram apenas o excedente operacional bruto e o rendimento misto. De maneira geral, isso indica um empobrecimento da população. Esta é a realidade nua e crua.


quarta-feira, 15 de novembro de 2023

Desafios dos trabalhadores

Nos últimos anos, a economia brasileira enfrentou desafios significativos, refletidos tanto nas variáveis macroeconômicas quanto no cotidiano dos trabalhadores. A análise do cenário atual, juntamente com as projeções para os próximos anos, revela um panorama que exige cautela e a necessidade de adaptação por parte de todos os agentes econômicos, especialmente dos trabalhadores assalariados.

Destaco os trabalhadores assalariados, pois enfrentam um dos desafios mais críticos da conjuntura atual: a defasagem salarial diante da inflação. Historicamente, a inflação tem sido um problema persistente na economia brasileira, e a tendência recente segue essa linha. Espera-se uma inflação de 4,59% para 2023, com uma redução para 3,92% em 2024 e 3,50% em 2025, de acordo com as expectativas de mercado do Relatório de Mercado do Bacen. Apesar desses números indicarem um controle da inflação, eles ainda representam um cenário em que o poder de compra do trabalhador é continuamente prejudicado. 

Muitas categorias de trabalhadores receberam reajustes salariais inferiores à inflação nos últimos anos, resultando em uma perda real de renda. A perda de poder aquisitivo das famílias tem como consequência direta a redução da demanda. O consumo, que é um dos principais impulsionadores da economia, enfrenta dificuldades quando os trabalhadores não conseguem acompanhar o aumento dos preços. Isso resulta em um ciclo vicioso e perverso: a diminuição do consumo leva à redução da produção, o que, por sua vez, desacelera a economia. As projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) espelham essa situação, com um crescimento previsto de 2,89% em 2023, desacelerando para 1,50% em 2024 e recuperando-se levemente para 1,93% em 2025.

O câmbio é outro fator relevante para a economia. Para 2023, projeta-se que o dólar esteja a R$ 5,00, com a expectativa de um aumento gradual para R$ 5,08 em 2024 e R$ 5,11 em 2025. Essas variações influenciam diretamente a competitividade das exportações brasileiras e os custos das importações. Com isto, a balança comercial do Brasil, embora robusta com um superávit projetado de US$ 76 bilhões em 2023, está prevista para diminuir para US$ 62,7 bilhões em 2024 e US$ 60 bilhões em 2025.

Por outro lado, a taxa Selic, que está em 11,75% ao ano em 2023, deve diminuir para 9,25% em 2024 e para 8,75% em 2025. Essa redução nos juros pode fomentar investimentos e o consumo, embora sua eficácia dependa de outros fatores econômicos e políticos. A dívida líquida do setor público, um indicador crucial da saúde fiscal do país, está projetada para crescer de 60,70% do PIB em 2023 para 65,90% em 2025. Esse aumento indica desafios no financiamento estatal e na sustentabilidade fiscal a longo prazo. O resultado primário, negativo durante todo o período analisado (-1,10% do PIB em 2023, com uma leve melhora para -0,60% em 2025), reflete a dificuldade de equilibrar as contas públicas. O governo continua com sua tendência de elevados gastos.

Neste contexto econômico desafiador, é crucial que as políticas econômicas se concentrem em fortalecer o poder de compra dos trabalhadores, incentivar investimentos produtivos e assegurar a estabilidade fiscal. Uma abordagem abrangente, que aborde tanto as necessidades imediatas quanto as estratégias de longo prazo, é fundamental para um crescimento econômico sustentável e inclusivo. Manter o poder aquisitivo dos salários não é apenas vital para o bem-estar dos trabalhadores, mas também é um pilar fundamental para o funcionamento eficaz da economia.


quarta-feira, 8 de novembro de 2023

Irresponsabilidade sobre rodas

O trânsito é uma engrenagem complexa de nossa sociedade, onde a fluidez e segurança deveriam ser os princípios norteadores, porém, existem gargalos e problemas que se multiplicam a cada dia. A realidade muitas vezes se traduz em congestionamentos e desafios que se intensificam diariamente. Nesse contexto, os motoqueiros sobressaem-se pela sua habilidade em navegar com destreza pelo tráfego, embora também estejam no centro de debates acalorados. Uma questão pertinente abordada recentemente neste espaço é a perturbação provocada pelos ruídos estridentes dos escapamentos de motos, que constituem uma verdadeira ofensa sonora e contrariam as regulamentações técnicas vigentes.

Contudo, o problema não se limita a esse aspecto auditivo. O comportamento de certos condutores de motocicletas tem contribuído para um cenário de transgressões e perigos. Aqui, é essencial distinguir entre motoqueiros e motociclistas. Os motociclistas argumentam que a associação de sua imagem aos motoqueiros é injusta e insensata. Para eles, motoqueiros são sinônimos de arruaceiros, indivíduos que veem as ruas como pistas de corrida e de exibições de manobras. Por outro lado, os motoqueiros – muitos se identificando como motoboys – defendem sua dignidade profissional, orgulhando-se de sua habilidade em navegar pelo caos urbano para cumprir suas entregas e obrigações.

Embora reconheça a distinção evidente entre os grupos, é indiferente a terminologia empregada ou as percepções de orgulho e desprezo que possam existir. O fato é que condutores de outros veículos e a população como um todo sofrem as consequências dos ruídos abusivos e das condutas imprudentes perpetradas por uma parcela notável daqueles rotulados como motoqueiros.

É flagrante o desrespeito às leis de trânsito por parte desses indivíduos. Com manobras temerárias, transitam pela contramão, avançam sobre carros em sinais vermelhos, ignoram faixas de pedestres e costuram o trânsito com uma ousadia irresponsável. Não é raro vermos motocicletas “empinando” em vias públicas ou rasgando o silêncio da cidade em velocidades imprudentes, comportamentos que não apenas infringem o código de trânsito, mas colocam em risco a vida de todos.

Diante desse cenário, é premente a necessidade de ação por parte das autoridades. Blitz educativas e punitivas deveriam ser uma prática constante, não apenas como medida corretiva, mas também como ferramenta de prevenção. Afinal, o objetivo não é somente penalizar, mas conscientizar e promover uma mudança cultural significativa no que diz respeito à condução de motocicletas.

Poderíamos sugerir, se a preocupação com a segurança e a ordem pública não são suficientes para motivar a fiscalização, que considerem o aspecto econômico. É de se ponderar quantos desses veículos que cortam nossas vias diariamente estão com impostos e taxas em atraso. Não seria esta uma oportunidade de ouro para engordar os cofres municipais, ao mesmo tempo em que se promove a legalidade e a segurança?

A ironia, claro, serve para iluminar a seriedade da questão: temos uma responsabilidade compartilhada para com a segurança e a qualidade de vida em nosso tecido urbano. Motoqueiros ou motociclistas, autoridades ou cidadãos, todos têm um papel na manutenção de um trânsito seguro e civilizado. Que os roncos dos motores e as manobras perigosas deem lugar a uma sinfonia de respeito e prudência. É hora de acelerar as iniciativas de fiscalização e educação, antes que a linha de chegada seja marcada por tragédias anunciadas e evitáveis.


quarta-feira, 1 de novembro de 2023

Revelações do Censo

À medida que os resultados preliminares do Censo Demográfico 2022 são divulgados, a sociedade e os formuladores de políticas públicas, se deparam com um manancial de informações cruciais que têm o potencial de transformar a elaboração, revisão e implementação de políticas públicas em todas as esferas governamentais. Esse processo abrange desde uma análise retrospectiva da última década até o planejamento proativo para o futuro.

O Censo vai além de simplesmente contar o número de habitantes em um determinado território. Ele fornece dados detalhados, como a distribuição por sexo e idade, que são vitais para compreender as nuances da população brasileira. Dentre as várias métricas que podem ser calculadas, o índice de envelhecimento, a idade mediana e a razão de sexo são algumas das mais significativas, servindo como ferramentas essenciais para orientar ações governamentais em âmbitos locais, estaduais e federal.

O índice de envelhecimento, que mostra a relação de pessoas com 65 anos ou mais para cada 100 crianças de zero a 14 anos, é essencial para entender as mudanças demográficas. No Brasil, esse índice é de 55,24, enquanto no Paraná é de 59,17, e na região de Apucarana, composta por 13 municípios, atinge 69,13, indicando a necessidade de atenção especial.

Esses números representam muito mais do que apenas uma mudança etária. Eles podem ser indicativos de tendências de longevidade, redução de natalidade, ou mesmo padrões de migração de jovens em busca de oportunidades em centros urbanos maiores. Municípios como Kaloré, Rio Bom e Borrazópolis apresentam idades medianas e índices de envelhecimento elevados, indicando uma população significativamente mais idosa.

Por outro lado, a razão de sexo, que expressa a proporção entre indivíduos do sexo masculino e feminino, também oferece informações profundas sobre a composição da população. No Brasil, essa razão é de 94,25, enquanto no Paraná é de 95,06, mostrando uma predominância de mulheres. Entretanto, em alguns municípios da região de Apucarana, como Novo Itacolomi e Rio Bom, essa razão ultrapassa 100, indicando uma maior presença masculina.

Não podemos subestimar a importância desses dados. Eles são ferramentas essenciais para os analistas sociais, econômicos e políticos na formulação de políticas eficazes e orientadas para as necessidades dos cidadãos. Desconsiderar essas informações não é apenas um sinal de insensibilidade por parte dos gestores públicos, mas também uma evidência de inaptidão para ocupar posições de responsabilidade.

É imperativo que os cidadãos reconheçam a relevância dos dados provenientes do Censo 2022 e cobrem de seus representantes a devida consideração a essas informações. A análise criteriosa desses resultados pode direcionar a alocação de recursos, a implementação de programas sociais e a tomada de decisões que impactam diretamente o bem-estar da população.

Os resultados do Censo, não são meros números em uma planilha, refletem a realidade sociodemográfica do Brasil, funcionando como uma bússola para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e igualitária. Sua importância é ímpar na reformulação e ajuste de políticas públicas. Governos que desvalorizam tais dados evidenciam uma desconexão com as necessidades populacionais. Portanto, é imperativo que os cidadãos se mantenham vigilantes, exigindo que os gestores públicos utilizem essas informações cruciais para fomentar um futuro próspero, e estejam prontos para responsabilizar e exigir ações concretas daqueles em posições de liderança.


quarta-feira, 25 de outubro de 2023

A música das ruas

O Brasil é um país muito diverso, o que gera uma identidade única a cada município. Contudo, em Apucarana, surge uma peculiaridade que não é motivo de orgulho: o ensurdecedor rugido das motocicletas equipadas com escapamentos alterados, que reverbera pelas ruas. Contrapondo-se à "nervosa calmaria", poeticamente descrita por Lobão em "Canos Silenciosos", essa atmosfera sonora tem sido fonte de perturbação e desassossego para muitos.

O que motiva uma pessoa a alterar o escapamento original de sua moto? Para uma parcela desses indivíduos, esse ronco estridente representa mais do que um simples ruído: é percebido como uma manifestação audível de rebeldia, um distintivo de pertencimento a um grupo ou até mesmo um questionável símbolo de status. No entanto, para a vasta maioria da população, este “concerto” soa menos como sinfonia e mais como clamor discordante que interrompe a serenidade do ambiente urbano.

Os motoboys e entregadores são frequentemente associados a essa prática, principalmente pelo volume de motos em atividade no serviço de entrega. Se por um lado, eles são os protagonistas da nossa economia em movimento, por outro, quando equipados com canos barulhentos, tornam-se agentes do estresse urbano.

Outro aspecto preocupante é a possibilidade de que muitas dessas motocicletas estejam com documentação e recolhimento de impostos irregulares. Esse fato não apenas potencializa os riscos no trânsito, mas também evidencia uma problemática mais ampla de descumprimento de responsabilidades cívicas. É essencial que haja uma fiscalização rigorosa, não apenas focada no ruído excessivo, mas também na regularidade dos documentos e no recolhimento dos impostos devidos.

Diante deste panorama, surge uma proposição audaciosa: e se os habitantes de Apucarana decidissem deliberadamente não comprar de empresas que empregam motoqueiros com motos barulhentas? Adotando esta postura, não apenas impulsionaríamos o comércio local a rever e aprimorar suas práticas, mas também plantaríamos a semente para uma profunda transformação cultural. Uma metamorfose que priorize o bem-estar coletivo, relegando a segundo plano o capricho sonoro individual.

Embora muitos motoqueiros demonstrem consideração pelo bem coletivo, não se pode ignorar que um contingente significativo contribui para a crescente cacofonia de nossas vias urbanas. Diante da gravidade desta questão, é vital que as autoridades redobrem seus esforços de fiscalização. Neste contexto, a Polícia Militar e os Agentes de Trânsito desempenham um papel primordial. A responsabilidade destes órgãos transcende a simples vigilância e penalização dos infratores. Há uma necessidade premente de promover campanhas de sensibilização, elucidando sobre os impactos prejudiciais do barulho exacerbado e fomentando a regularização dos veículos.

A canção de Lobão evoca uma atmosfera de tranquilidade proporcionada pelos canos silenciosos, pintando um retrato lírico do silêncio. Entretanto, em Apucarana, assim como em inúmeros outros municípios, anseia-se não apenas por uma paz sonora, mas por uma paz genuína, enraizada no profundo respeito e consideração pelo bem-estar alheio.

Chegou a hora de nós, cidadãos de Apucarana, nos unirmos em um propósito comum. Lançamos um apelo contundente: “optem por não comprar de empresas que utilizam motos barulhentas em seus serviços de entrega!” Com nossa coesão e determinação, temos o poder de refinar a paisagem sonora de nossas vias e cultivar um ambiente urbano mais equilibrado e agradável para cada um de nós.


quarta-feira, 18 de outubro de 2023

Liderança ou demagogia?

Políticas públicas não são meras palavras lançadas ao vento; elas constituem a base fundamental do progresso de uma nação. Contudo, é fundamental reconhecer que a implementação bem-sucedida dessas políticas está interligada diretamente à competência e integridade de nossos representantes políticos. No Brasil, a Constituição Federal destaca uma série de direitos sociais. No entanto, a realidade nos mostra que o abismo entre o que está escrito e o que se pratica é vasto e profundamente preocupante.

Muitos políticos, em suas campanhas eleitorais, prometem mundos e fundos, utilizando a retórica como ferramenta principal para captar votos. Entretanto, uma vez no poder, escondem-se atrás de desculpas e justificativas, sendo a alegação da falta de recursos uma das mais recorrentes. Esta justificativa, por mais válida que possa parecer em certos contextos, frequentemente serve como um véu que encobre a incompetência ou a falta de vontade política de realizar mudanças significativas.

Quando um cidadão decide lançar-se na arena política e candidatar-se a um cargo público, deveria fazê-lo impulsionado por um genuíno desejo de servir e transformar a sociedade. A familiaridade com a realidade socioeconômica da posição que aspira é um requisito inegociável. É inaceitável que, após serem eleitos, estes representantes exibam um desempenho pífio, justificando sua inércia através de alegações de surpresa ou desconhecimento. Afinal, foram eleitos para serem solucionadores de problemas, e não meros observadores passivos das adversidades.

O artigo 37 da Constituição esclarece os princípios que devem orientar a administração pública. No entanto, o cenário político atual nos faz questionar: estes princípios estão verdadeiramente sendo respeitados? A inserção do princípio da eficácia, por exemplo, é uma necessidade premente. Ser eficaz é entregar resultados, não somente prometê-los. Agentes políticos deveriam ser amarrados a metas tangíveis e, caso não as cumpram, deveriam ser responsabilizados de forma severa, inclusive com a perda de mandato.

A paralisação de serviços públicos essenciais sob a justificativa de falta de recursos é uma triste realidade que frequentemente assola o país. Enquanto isso, observamos alguns de nossos representantes gozando de privilégios em seus gabinetes luxuosos. Como podem, de suas poltronas acolchoadas, decidir sobre a interrupção de serviços que são vitais para os cidadãos, sendo que muitos dos quais já se encontram em situações vulneráveis?

Estudos recentes sobre eficiência em gastos públicos em áreas críticas, como saúde e educação, em municípios paranaenses, revelam discrepâncias alarmantes e municípios de nossa região de destacam negativamente nestes estudos. Tais estatísticas nos levam a questionar: onde está a falha? Estaria ela na gestão dos recursos ou na própria alocação de verbas?

Políticas públicas não devem ser instrumentos de propaganda política. Elas devem ser norteadas por metas e objetivos mensuráveis e palpáveis. Infelizmente, a atual paisagem política é permeada por retóricas infladas e discursos demagógicos que raramente se traduzem em ações tangíveis.

É alarmante a quantidade de políticos que, com eloquência, falam sobre a importância dos direitos sociais, mas que, uma vez em posições de poder, falham miseravelmente em garantir esses direitos à população. Palavras sem ações concretas são vazias e, mais do que isso, são traiçoeiras. A sociedade brasileira merece mais do que promessas; ela clama por transformação real e duradoura.