Além das tarefas hercúleas envolvidas na gestão tributária das empresas brasileiras, os custos decorrentes desse processo são, em geral, excessivos e acabam onerando os preços finais de produtos e serviços, comprometendo a competitividade. No cenário do chamado “manicômio tributário”, manter-se adimplente com as múltiplas coletorias é um desafio constante, o que há décadas motiva contadores e empreendedores a reivindicarem uma reforma tributária, agora finalmente anunciada pelo governo federal como a resposta às antigas demandas do setor produtivo.
O que deveria ser a redenção para aqueles que há tanto tempo clamavam por mudanças começa a se transformar em motivo de preocupação para as empresas situadas em território nacional. A reforma, que tinha como promessa central a simplificação do sistema tributário por meio da implantação de um imposto único, o chamado Imposto sobre Valor Agregado (IVA), acabou tomando outro rumo. Para atender aos mais diversos interesses, os legisladores optaram por criar três tributos que substituirão a maior parte dos atualmente existentes.
Foram criados a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), de competência federal, que substituirá o PIS, a Cofins e o IPI, e o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), de competência estadual e municipal, que substituirá o ICMS e o ISS. Como se isso já não bastasse, instituiu-se ainda o Imposto Seletivo (IS), um tributo adicional sobre produtos prejudiciais à saúde ou ao meio ambiente. Na prática, não há uma real simplificação: além de apenas substituir cinco tributos por três, criou-se uma alíquota conjunta considerada excessiva por muitos especialistas e setores produtivos e ainda não definiram as formas de arrecadação.
E, como nada no Brasil pode ser simples e prático, a implantação e a transição da reforma tributária estão cercadas de incertezas para todos os envolvidos. Municípios com equipes mais qualificadas já demonstram preocupação com o rateio do produto arrecadado, pois, atualmente, existem regras claras e objetivas para a divisão da receita dos tributos federais e estaduais, conforme estabelece o pacto federativo. No entanto, a forma de repartição dos recursos no novo modelo tributário ainda está indefinida.
O fato é que muitos prefeitos começaram a se preocupar com os impactos da reforma. Nos municípios pequenos, onde historicamente havia pouco interesse na arrecadação do IPTU, já se observa um movimento em busca de alternativas para potencializar a receita desse imposto. Enquanto isso, municípios de porte médio e grande iniciam uma verdadeira disputa na definição das regras para o rateio do “bolo tributário”.
Diante de tantas incertezas e riscos, especialmente para os municípios, é urgente que a sociedade desperte. A reforma tributária está em andamento, e seus efeitos podem ser muito diferentes do que foi prometido. Se a população continuar indiferente, acabará arcando com os prejuízos sem sequer entender o motivo. É o momento de debater, questionar e se envolver, antes que seja tarde demais.
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