quarta-feira, 24 de março de 2021

O objetivo e a razão

O ano de 2020, o de 2021 e os próximos três anos serão de uma profunda transformação no comportamento dos agentes econômicos. No Brasil a necessidade de mudanças no comportamento econômico será mais profunda. Os avisos emanados pela crise da pandemia deverão servir de aprendizado para todos.

Muitas empresas, principalmente no setor de serviços, já perceberam isto e a capacidade empreendedora dos diversos segmentos do setor já estão se adequando a uma realidade diferente do habitual que envolve menos custos fixos e mais atenção com o método de atendimento de seus clientes. Com isto a fidelização está mais evidente e as possibilidades de crescimento das empresas se potencializaram.

Mudanças comportamentais também deverão ocorrer em diversos segmentos do comércio e da indústria. Mas, e o setor público? Também teremos mudanças nas ações e comportamentos do setor público? Acredito que haverá mudanças, sim. Em alguns casos pela própria dinâmica e vanguarda de gestões eficientes e inovadoras. Em outros, pela necessidade imposta pela sociedade, ou seja, de fora para dentro. Já alguns não precisarão ou não terão movimentos nem de dentro e nem de fora que provoquem as mudanças necessárias.

Já faz alguns anos que o setor público brasileiro está sofrendo com a distinção da velocidade de crescimento entre suas despesas e suas receitas. A primeira cresceu numa velocidade média mais vigorosa. Com isto, o comprometimento do orçamento público aflora e transforma boa parte (ou a maioria) das despesas de custeio da máquina pública em obrigatórias. Quando isto acontece a sociedade sente uma redução da ação das políticas públicas.

No ano de 2020 as receitas públicas ocorreram, porém não como planejado pela maioria, e as despesas também ocorreram e até foram bem maiores do que o planejado por conta da pandemia. É claro que estes eventos geraram custos para os próximos anos: a manutenção da condição de déficit primário e o aumento do estoque da dívida. E ainda há a possibilidade de ocorrerem mais déficits e a continuidade do aumento da dívida pública projetada com a tendência de aumento dos gastos públicos que está sendo sinalizado pelos agentes políticos brasileiros.

A manutenção do auxílio emergencial é necessária. Talvez até seja necessário aumentar as linhas de auxílio emergencial, uma vez que a retomada do crescimento da economia está sendo protelada pela lentidão no processo de vacinação. O aumento da dívida por conta disto é plenamente aceitável. Sei que muitas pessoas discordam disto, assim como muitos discordam do Bolsa Família, porém a situação de empobrecimento e da fome é explícita. Só não enxerga quem não quer.

Há muitas ações entre amigos e entidades buscando arrecadar recursos para adquirir e distribuir cestas básicas. Atitudes louváveis, porém, é necessário que o poder público passe a se preocupar e se ocupar com esta atividade e até ir além disto. Prefeituras e governos estaduais, além do governo federal, devem criar programas de renda mínima para socorrer os seus cidadãos menos afortunados que estão sofrendo com a crise econômica atual. Também devem criar auxílios para as micro e pequenas empresas e profissionais liberais e ambulantes. Além, é claro, de distribuir cestas básicas para as famílias mais necessitadas, que são muitas. Todos estão sofrendo com a crise atual.

Estas ações não são favores, nem devem ter a perspectiva de transformar políticos em mitos ou heróis. É, simplesmente, o objetivo e a razão da existência do papel ativo do setor público na economia.

Um comentário:

  1. Excelente artigo. Deveria ser lido pelos empresários e por gestores públicos.

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