domingo, 1 de setembro de 2019

Tem que ter método


O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou a estimativa da população para este ano, que é utilizada como critério para distribuição de recursos. Segundo a estimativa, os vinte e seis municípios da região do Vale do Ivaí totalizaram um aumento populacional, passando de 335.289 para 335.933.

Mas as reclamações dos prefeitos da região já começaram e o motivo é até muito estranho: 17 dos 26 municípios tiveram as estimativas revisadas para baixo, reduzindo do número de habitantes.

É possível que as estimativas estejam erradas? É claro que sim. São estimativas, não houve uma pesquisa “in loco”. Porém, para se contestar estas estimativas é necessário ter razões para além da vontade do alcaide de ter uma cidade com mais habitantes, com mais eleitores.

As justificativas para indicar o desacordo com os quantitativos divulgados são das mais variadas: aumentos nas ligações de luz e água, novos cursos em faculdades, número de cartões SUS, de vacinações, de alunos matriculados, aumento de número de imóveis, dentre outros.

O IBGE tem uma metodologia, sim. O instituto, para fazer as estimativas, baseia-se na relação da tendência de crescimento populacional do município, observada entre dois censos demográficos consecutivos combinados com a tendência de crescimento do estado.
Para contestar, basta fazer um processo devidamente fundamentado e demonstrado, com método, e apresentar para o instituto. Pode ser que as estimativas sejam revisadas, sim. Mas por que os prefeitos e muitos cidadãos entendem que a população do município que administram ou que vivem deve aumentar? Aumento populacional não é sinônimo de aumento de qualidade de vida.

Tem que se considerar que há migrações e que elas acontecem por diversos motivos e podem ser internas ou externas. No século passado tivemos o êxodo rural que foi um processo migratório de população rural para o espaço urbano. A falta de emprego no campo por conta do processo de mecanização levou muitas pessoas a migrarem para as áreas urbanas, também motivadas pelo crescimento do emprego industrial e pela qualidade de vida lá existente.

O mesmo processo ocorre agora entre as pessoas que moram em municípios pequenos, elas migram para cidades maiores por várias razões: para estudar, em busca de melhor atendimento de saúde, para melhorar a qualidade de vida através de opções de lazer e, principalmente, em busca de emprego. As oportunidades de emprego estão reduzindo nos pequenos municípios, e isto deve ser admitido pelos prefeitos e cidadãos destas cidades.

Querer o aumento populacional de uma cidade é um grande risco, principalmente por parte de agentes políticos. Eles devem entender que as pessoas podem estar saindo de suas cidades por falta uma estrutura educacional satisfatória, por falta de atendimento de saúde especializada para tratar algumas doenças graves, por falta de emprego, etc. Sem falar que, se aumentar a população, as prefeituras deverão ampliar a rede de proteção social existente que, na maioria das vezes, já é insuficiente para o quantitativo ali existente.

Uma boa forma de tentar promover o crescimento populacional de uma cidade é a prefeitura implementar políticas públicas que garantam uma cobertura de atendimento de saúde boa, escolas públicas cujos alunos demonstrem ter bons desempenhos nas avaliações nacionais e internacionais de ensino e, principalmente, empregos que garantam salários dignos para todos. Somente depois que garantirem isto tudo é que poderão torcer pelo aumento da população. Caso contrário é tudo política. Tem que ter um método.

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