quarta-feira, 5 de maio de 2021

De solavanco em solavanco

Embora o governo ainda não tenha demonstrado a que veio na área econômica as projeções começam a indicar a recuperação através de alguns indicadores. As expectativas do mercado financeiro, divulgadas pelo Banco Central, estão indicando a melhora em alguns indicadores e a piora em outros.

Como todos nós já sabemos a expectativa é de inflação em alta e, com isto, também temos uma expectativa de aumento dos juros na economia. O Comitê de Política Monetária do Banco Central elevou os juros básicos da economia na última reunião de março de 2,00% ao ano para 2,75% ao ano. A expectativa é que terminemos o ano de 2021 com a Selic em 5,50%.

Neste quesito temos indicadores preocupantes, uma vez que estamos sofrendo com o aumento da inflação, puxada essencialmente pelo aumento dos alimentos, o que agrava a situação de penúria social em nosso país. A forma de combater a inflação que o governo utiliza é com os juros.

Com efeito, teremos aumento de juros em nossa economia. O aumento dos juros também reduz a velocidade de crescimento do PIB podendo até estagnar ou mesmo gerar uma recessão. Não é o caso brasileiro. Em 2021 teremos crescimento do PIB, porém muito aquém do necessário para recuperar parte do que regredimos do ano de 2015 a 2020. Analisando de forma objetiva não seria interessante o aumento dos juros em nossa economia por três motivos.

O primeiro é que o nível de investimento responde negativamente ao movimento dos juros e um aumento dos juros reduzirá os investimentos e, com isto, o PIB desacelera. Isto traz uma perspectiva ruim para o desemprego para o qual continuaremos amargando altos níveis nos próximos quatro anos.

O segundo motivo é que com o aumento dos juros combinado com o déficit fiscal persistente o risco-país não reduz e o investimento direto no país, que é uma forma de financiar nossa atividade econômica, não se recupera. A expectativa é que o investimento direto no país acumule US$ 55 bi em 2021, metade do obtido no ano de 2011 e muito inferior ao valor médio alcançado no período de 2010 a 2019.

O terceiro motivo é que os países ricos, que já estão em plena retomada, estão mantendo os juros básicos de suas respectivas economias muito próximo de zero. Com esta prática das autoridades econômicas brasileiras teremos uma retomada muito lenta e o crescimento da economia deverá se manter na média anual de 2,5% nos próximos quatro anos. Muito pouco, se considerarmos as crises recentes que sofremos.

O governo brasileiro vem comemorando o desempenho recente da balança comercial que está sinalizando uma forte retomada motivada pela demanda de soja e minério de ferro pela China bem como pela retomada da economia americana. Com isto, há quem já aponte um superávit de US$ 73 bi. Porém, as expectativas de mercado sinalizam para um saldo na balança comercial de 2021 em torno de US$ 64 bi. Ambas as estimativas são muito positivas e devem se comemoradas, sim.

Infelizmente o desempenho externo de nossa economia não será suficiente para garantir um crescimento robusto. O crescimento de nossa economia sempre foi puxado pelo consumo das famílias. Só que isto está desaquecido pelo alto nível de desemprego e redução da renda real dos brasileiros. O erro estratégico do governo foi interromper o pagamento do auxílio emergencial e a sua retomada com valores muito baixos. Para recuperar os estragos econômicos causados pela pandemia e pela inércia do governo levaremos, no mínimo, uns sete anos. Isto se não tivermos mais solavancos pelo caminho, o que é pouco provável.

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