quarta-feira, 2 de junho de 2021

Há muito a ser feito

Como sempre tenho afirmado, a economia irá se recuperar. É claro que depende da forma de condução das políticas públicas, em especial do conjunto das políticas econômicas, porém é natural que os agregados econômicos respondam positivamente aos eventos e estímulos externos. É bem isto que está acontecendo: muitas economias do globo estão retomando o nível de atividade e estamos se beneficiando destes movimentos.

Temos méritos internos de muitas ações de governos estaduais e municipais no combate a pandemia e na proteção ao setor produtivo. Muito pouco é mérito das ações do governo federal, até porque muito pouco está sendo feitos neste nível. Pelo contrário, conforme o economista Márcio Pochmann citou, estamos vivenciando um apagão oficial na geração de dados estatísticos de responsabilidade do governo federal. Estas estatísticas deveriam subsidiar a elaboração de políticas públicas para os próximos anos, mas isto também se prejudicará pela inércia governamental.

Estamos vivenciando um período onde o binarismo está prevalecendo. Temos o obscurantismo do governo (ou do governante) de um lado e movimentos progressistas, de outro. Ambos os lados possuem seus defensores, só que a violência nas suas ações estão se evidenciando e muitas pessoas que gostariam de participar do debate político recuam para não serem atingidos pelas ondas de intolerância que podem surgir de qualquer lado. Exemplos temos aos montes e ocorrem quase todos os dias.

Mesmo com tudo isto, estamos avançando. O IBGE divulgou o resultado das contas nacionais trimestrais referentes ao primeiro trimestre de 2021. A economia dá sinais de que está começando a se recuperar. No primeiro trimestre de 2021 o PIB cresceu 1,2% comparado com o último trimestre de 2020. Na comparação ao mesmo período do ano anterior o crescimento foi de 1%. A notícia é muito boa, mas deve ser comemorada com moderação, pois o acumulado nos últimos quatro trimestres ainda aponta para uma queda de 3,8%.

Também temos que atentar para os agregados que puxaram este desempenho. Os dois grandes motores históricos de nosso PIB, o consumo das famílias e os gastos governamentais apresentaram queda de desempenho no trimestre, -0,1% e -0,8%, respectivamente. Da mesma forma, a balança comercial se apresentou deficitária pelo forte crescimento das nossas importações.

O destaque ficou por parte do investimento privado, constituído pela formação bruta de capital fixo e pela variação de estoques. O seu crescimento foi de 4,6% no primeiro trimestre do ano. É bom, pois indica que o setor privado está voltando a investir no setor produtivo, mas temos que acompanhar se este movimento não será reduzido pelo aumento dos juros básicos de nossa economia que possui expectativa de atingir 5,5% até o final do ano.

Os resultados dos gastos governamentais contribuíram para a obtenção de superávit primário nas estatísticas fiscais do mês de abril e no acumulado no quadrimestre. Mas as expectativas ainda persistem em déficit primário equivalente a 3% do PIB para o ano de 2021. É questão de tempo para que o governo abra os cofres para a gastança rumo ao desequilíbrio persistente nas contas públicas.

Mesmo assim as expectativas acerca do crescimento da nossa economia em 2021 já estão girando na mediana de 3,96%. Há que aposte em crescimento em torno de 5%. É possível que tenhamos um bom desempenho, porém temos que ter cautela e ficarmos atentos aos próximos movimentos de políticas públicas. Há muito a ser feito antes de termos a certeza de uma melhora sustentável.

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