quarta-feira, 23 de junho de 2021

O modelo oportunista

O mercado financeiro está otimista quanto ao crescimento da economia brasileira neste ano. Como já havia antecipado, a economia irá se recuperar, independente da intensidade das políticas públicas implementadas. Isto não quer dizer que os governos não ajudam, pelo contrário, são essenciais para a retomada. A retomada seria muito tímida sem a coordenação das autoridades econômicas. É isto que se espera do governo: que coordene a retomada lançando mão de políticas econômicas que garantam a reversão da tendência do ciclo recente.

A expectativa mediana para o crescimento econômico de 2021 é de 5%, mas se não tivermos intercorrências o crescimento efetivo poderá ser ainda maior. Para isto acontecer é necessária a tal da coordenação que não pode apostar em medidas populistas, que é justamente o que estamos vendo se desenhando no cenário político brasileiro.

O presidente anunciou que o valor a ser pago aos beneficiários do programa Bolsa Família será de R$ 300, contra os atuais R$ 190. A justificativa de que o aumento do valor é necessário porque os preços dos alimentos subiram muito nos últimos meses é justa e correta. Isto não teria problema se o governo federal não estivesse passando por um período de extrema dificuldade na questão fiscal, o que faz com se pergunte: como o governo federal irá financiar este aumento de despesas?

Esta medida é considerada por muitas pessoas como sendo populista pelo fato de que no próximo ano teremos eleições presidenciais. É populista, mas é necessária. Na mesma linha populista o presidente está pretendendo conceder reajuste salarial para o funcionalismo público federal de 5%. Também é necessário, mas a pergunta é a mesma: com que dinheiro? Pois bem, o governo terá que arrecadar mais ou se endividar mais para financiar o aumento das despesas?

Segundo a regra do teto dos gastos a inflação que estamos tendo nos últimos meses será utilizada para corrigir os gastos do ano de 2021 e como ela está elevadíssima deverá abrir um espaço fiscal em torno de R$ 120 bilhões para o aumento dos gastos em 2022. Isto não significa que terá o dinheiro, mas que poderá gastar e é isto que interessa para o governo nesta altura do “campeonato”.

Outra questão que o presidente está encomendando é a revisão da faixa de isenção do imposto de renda para R$ 2,5 mil. Atualmente é de R$ 1,9 mil e a equipe econômica já considerava aumentar para R$ 2,4 mil. Outra medida necessária, mas que implica em menos receita. Como resultado da combinação destas ações de aumento de despesas e redução de receitas temos que o governo ampliará o déficit para o ano de 2022 e o risco país poderá aumentar, exigindo o aumento dos juros e colocando em risco outros fundamentos da economia.

E para piorar o cenário estamos com uma expectativa de inflação elevada que corroerá o salário dos trabalhadores aumentando as restrições orçamentárias e o desemprego se manterá elevado, pois a retomada da atividade econômica não dará conta de reempregar todos aqueles que perderam seus empregos nos últimos anos.

Os desafios são muitos para a equipe econômica e as decisões devem ser tomadas com muita responsabilidade. O grande problema é que teremos eleições novamente e, com isto, os políticos praticarão o ciclo político tradicional visando a maximização dos votos através da manipulação da política econômica. Isto não é nada bom para nossa economia, mas se depender dos políticos as soluções dos problemas da população ficam para depois, agora é hora de resolver os deles. O povo sempre tem que esperar.

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