quarta-feira, 20 de setembro de 2023

Desinformação e ódio

Atualmente, somos constantemente inundados por notícias disseminadas via aplicativos de mensagens instantâneas e redes sociais. Surpreendentemente, até mesmo indivíduos reconhecidos por sua integridade e ética se tornam propagadores de informações cuja veracidade é incerta. Nesse contexto, destaco a "Regra dos Três Filtros", frequentemente atribuída ao filósofo Sócrates, que se mostra mais pertinente do que nunca. 

Embora a "Regra dos Três Filtros" seja frequentemente atribuída ao renomado filósofo grego, não encontramos tal regra em seus textos originais, sugerindo que sua associação a ele possa ser indireta. No entanto, sua essência permanece crucial. Ao compartilhar notícias ou informações, todos deveriam adotar esta regra. Ela nos orienta a começar nossa jornada digital com o primeiro filtro: a verdade. Antes de propagar qualquer informação, é essencial questionar sua fundamentação em fatos concretos e fontes confiáveis. Precisamos nos perguntar: qual é a origem dessa informação? É confiável? Em vez de sermos meros propagadores de boatos, aspiremos a ser pensadores críticos, sempre em busca da verdade.

O segundo filtro nos orienta a ponderar sobre a integridade da informação que planejamos divulgar. A regra sugere que meramente ser verdadeiro não é o bastante; é essencial avaliar se o conteúdo é positivo, justo e benéfico. Precisamos nos questionar: qual impacto essa notícia ou mensagem terá para as pessoas ou para a sociedade como um todo? Em uma era marcada pela polarização e pelo ódio nas redes sociais, temos o dever de disseminar mensagens que fomentem empatia, entendimento e coesão. Optar pelo oposto é desnecessário e até imoral.

O terceiro filtro nos instiga a avaliar a relevância do que desejamos divulgar. A regra sugere que nem todas as verdades devem ser propagadas, sobretudo se não agregarem ao bem comum. Nas redes sociais, a disseminação de desinformação sobre pessoas e eventos é recorrente. Nos próximos meses, com as eleições municipais à vista, espera-se um aumento dessa prática, visando criar narrativas distorcidas sobre diversos candidatos. Por trás da propagação de notícias falsas, muitas vezes existem grupos com o propósito singular de fragmentar a sociedade.

Em um mundo digital a responsabilidade na disseminação de informações torna-se primordial. Notícias falsas representam riscos à democracia e à coesão social. Assim, antes de compartilhar informações online, é essencial sermos criteriosos e reflexivos. Ao adotar a regra dos três filtros de Sócrates — verdade, bondade e utilidade — temos a oportunidade de contribuir para um ambiente digital mais saudável e ético.

No intrincado tecido das relações digitais, não é raro vermos parentes, amigos e até figuras públicas locais e regionais, inadvertidamente (ou não), servindo como veículos para a propagação de notícias falsas. O mais perturbador é quando analistas, influenciadores digitais e até repórteres, sob o disfarce da objetividade, espalham deliberadamente desinformação. Muitas vezes, o fazem com a clara intenção de destruir reputações alheias enquanto enaltecem as de seus protegidos ou clientes. 

Com essa prática, o compromisso com a verdade é muitas vezes sacrificado no altar das agendas ocultas. Sejamos críticos e cautelosos, pois, ao abraçar princípios éticos na era digital, não só defendemos a integridade do nosso espaço virtual, mas também refletimos os mais elevados valores da humanidade. A real liberdade de expressão demanda responsabilidade e discernimento, e não a manipulação velada.

quarta-feira, 13 de setembro de 2023

SimCity Brasileiro: a fantasia de gestão

No próximo ano, os brasileiros enfrentarão um cenário político que se assemelha a uma partida do jogo SimCity, com as próximas eleições municipais. Vereadores e prefeitos já iniciaram suas pré-campanhas nas redes sociais, enaltecendo seus "feitos". Contudo, independente da genuína eficiência de suas gestões, muitos buscam projetar uma imagem de prosperidade. Em um jogo, a má gestão leva cidadãos virtuais a se mudarem. Mas, na realidade, as consequências de uma administração falha são profundamente mais impactantes, afetando diretamente a vida de muitas pessoas.

Na dinâmica do SimCity, um prefeito que não atende às expectativas dos cidadãos vê sua cidade se esvaziar até se tornar uma "cidade fantasma". No entanto, onde a mudança não é uma alternativa acessível a todos, os habitantes são frequentemente forçados a lidar com as deficiências e omissões de seus gestores.

Uma característica marcante do nosso panorama político é sua natureza cíclica. Eleição após eleição, somos confrontados com promessas repetidas, retóricas recicladas e, frequentemente, os mesmos protagonistas. Quando emergem novos candidatos, aqueles já estabelecidos no cenário político frequentemente empregam táticas para minar a reputação dessas alternativas. Embora, em jogos como SimCity, evolução e inovação sejam essenciais para a prosperidade de uma cidade, na vida real, muitos resistem à renovação, mantendo-se fiéis a métodos antigos e desatualizados.

Em SimCity, a jogabilidade permite que os players reconheçam e corrijam seus erros. Um projeto mal planejado ou uma decisão apressada pode ser revisado em tentativas subsequentes. A queda na popularidade do gestor virtual é percebida e tratada com seriedade, levando à necessidade de atender diretamente às solicitações dos cidadãos. Contrastando com isso, no panorama político brasileiro, a habilidade de reconhecer falhas e promover mudanças significativas é menos aparente. O cenário frequentemente se repete com promessas vazias, controvérsias de corrupção e iniciativas mal formuladas, tornando-se, lamentavelmente, o padrão.

No jogo, reiniciar e adotar uma nova estratégia é um processo simples. Contudo, na realidade, as repercussões das decisões políticas são profundas e, frequentemente, definitivas. Cada projeto deixado pela metade, cada recurso desviado e cada decisão mal articulada impactam a vida de inúmeras pessoas, chegando a afetar milhões. Ao ponderar a correção de tais erros, nos deparamos com a perspectiva de um processo demorado, que pode se estender por anos e com o consumo significativo dos recursos oriundos de impostos.

A chave para a mudança está na responsabilidade dos eleitores de se informarem, analisarem e participarem do cenário político. É preciso que os cidadãos não se deixem influenciar por mensagens ou publicações sensacionalistas nas redes sociais. Com o acesso à informação cada vez mais facilitado, é possível verificar a veracidade de uma notícia. Basta ter a iniciativa de fazê-lo. 

A democracia é um projeto coletivo, que depende da participação ativa dos cidadãos. Ao assumirmos uma postura questionadora e ativa diante dos ocupantes de cargos públicos, podemos promover uma mudança no cenário atual. Para isso, é preciso que os eleitores se reconheçam como protagonistas da democracia, não apenas observadores. É preciso ir além do voto e se envolver em organizações sociais e movimentos populares. Cidadãos, vocês querem assumir o protagonismo da democracia? Vocês querem construir um futuro melhor para todos?


quarta-feira, 6 de setembro de 2023

Ensino público em alerta

As recentes estatísticas publicadas pelo INEP a respeito dos cursos superiores no Brasil evidenciam uma realidade inquietante e de múltiplos aspectos. Enquanto as taxas de desistência alcançam níveis alarmantes, a escassa demanda pelos cursos superiores nas instituições públicas do estado do Paraná também se destaca como um ponto crucial de discussão nas conversas pelos corredores universitários.

Os dados para o Brasil demonstram que, considerando a média dos cursos superiores (excluindo cursos nas áreas de saúde e engenharias) com alunos ingressantes em 2017, somente 28,1% dos alunos concluíram seus cursos até 2021, após cinco anos de estudos. Essa taxa de conclusão baixa por si só já merece reflexão, mas quando olhamos especificamente para os cursos de instituições públicas (estaduais e federais), a situação se agrava ainda mais: apenas 20,0% dos estudantes conseguiram concluir seus cursos até 2021, levantando questionamentos sobre a eficácia de se garantir uma trajetória acadêmica bem-sucedida.

No cenário paranaense, os números de concluintes são melhores, mas igualmente preocupantes. Em média, apenas 34,3% dos alunos conseguiram concluir seus cursos, enquanto 49,2% decidiram abandonar, e 16,5% ainda se mantiveram matriculados. Dentro das instituições públicas do estado, a taxa de conclusão cai para 28,0%, com uma proporção significativa de 41,3% de desistências. Quando analisamos as instituições federais isoladamente, a taxa de conclusão é ainda menor, apenas 20,1%, com 41,9% de desistentes. Nas instituições estaduais, apesar de um desempenho um pouco melhor (33,5% de concluintes), ainda há um elevado número de desistências (40,9%). 

Nas conversas informais pelos átrios das universidades públicas do Paraná, a diminuição da procura nos vestibulares surge como um tema recorrente, refletindo uma preocupação disseminada sobre as ações e estratégias iminentes dessas instituições. Os consideráveis índices de evasão destacam um problema sistêmico que demanda uma investigação e resolução urgentes.

De maneira geral, as razões subjacentes a esse fenômeno requerem uma análise profunda. Questões financeiras, carência de apoio acadêmico, desalinhamento entre as expectativas dos alunos e a realidade dos cursos oferecidos, bem como desafios socioeconômicos, podem estar entre as diversas razões que levam os estudantes a desistir. No entanto, esses números também suscitam questionamentos acerca da qualidade do ensino, da pertinência dos currículos e da capacidade das instituições de se adaptarem às necessidades em constante evolução dos alunos.

A falta de conclusão de cursos não é apenas uma perda para os próprios estudantes, mas também para a sociedade como um todo. Investimentos significativos são feitos em educação superior, e quando uma parcela tão grande de alunos desiste, o retorno desse investimento para a sociedade é seriamente comprometido.

É imperativo que as instituições de ensino, especialmente as de caráter público, juntamente com os órgãos reguladores, encarem esse desafio de maneira direta. Uma revisão ampla dos currículos, o aprimoramento do suporte aos alunos, a adaptação dos métodos de ensino às demandas contemporâneas e um esforço concentrado na compreensão e abordagem das razões subjacentes à evasão são medidas cruciais para reverter essa tendência negativa. O ensino superior no Paraná e em todo o país depende da habilidade em solucionar este problema e assegurar que os estudantes possam efetivamente colher os frutos de suas aspirações acadêmicas.


quarta-feira, 30 de agosto de 2023

Desafios para a Educação

Nos últimos anos, observamos uma significativa evolução no panorama educacional das séries iniciais do ensino fundamental no Paraná. A comparação entre os anos de 2013 e 2022 revela transformações notáveis nas matrículas e na relação entre alunos e professores, ressaltando a importância de uma análise crítica para compreendermos o que está por trás dessas mudanças e como podemos direcionar as políticas públicas de educação municipal.

De acordo com dados do Censo Escolar do INEP, em 2013, havia 826.505 alunos matriculados nas séries iniciais do ensino fundamental, divididos em 3.471 alunos em escolas estaduais, 701.996 em escolas municipais e 121.038 em escolas privadas. Ao observarmos a relação alunos por professor percebemos desigualdades marcantes. Com 47.764 docentes, a média variava de 9 alunos por professor nas escolas estaduais, 19 nas escolas municipais e 10 nas escolas privadas.

Em 2022, constatamos uma diminuição no total de matrículas, totalizando 765.323 alunos, distribuídos da seguinte forma: 3.223 alunos em escolas estaduais, 643.264 em escolas municipais e 118.836 em escolas privadas. A relação entre alunos e professores também sofreu modificações, com a presença de 52.186 docentes. As médias indicam agora 7 alunos por professor nas escolas estaduais, 16 nas escolas municipais e 10 nas escolas privadas.

Destaco a microrregião de Apucarana como um exemplo relevante. Em 2013, havia um total de 20.419 alunos matriculados, sendo 16.337 deles em escolas municipais e 4.082 em escolas privadas. Com a atuação de 1.394 docentes, a proporção de alunos por professor era de 17 nas escolas municipais e 10 nas escolas privadas. Já em 2022, o cenário se transformou, com 21.899 alunos matriculados: 18.177 em escolas municipais e 3.722 em escolas privadas. O corpo docente, por sua vez, totalizava 1.493 professores, o que resultava em médias de 17 alunos por professor nas escolas municipais e 9 nas escolas privadas.

Essas mudanças suscitam diversas hipóteses e reflexões. A redução nas matrículas pode ser influenciada por fatores demográficos, migrações ou pela oferta de outras modalidades de ensino. A diminuição da relação alunos por professor em escolas estaduais pode indicar investimentos em recursos humanos, enquanto a estabilidade nas escolas privadas sugere uma estrutura já otimizada. Já a pouca diminuição na relação alunos por professor em escolas municipais levanta questionamentos sobre a qualidade e a equidade do ensino oferecido.

Ao direcionar políticas públicas de educação municipal, é fundamental considerar esses dados. Investimentos na formação e valorização dos professores, bem como na estrutura das escolas, podem contribuir para reduzir as discrepâncias entre as dependências administrativas. Além disso, é essencial compreender as razões por trás das quedas nas matrículas, buscando maneiras de atrair e reter alunos na rede pública.

Em um mundo em constante evolução, a educação desempenha um papel vital na preparação das futuras gerações. A análise crítica desses dados nos convida a enxergar além das estatísticas, percebendo os desafios e oportunidades que moldam o cenário educacional. Somente por meio de uma abordagem informada e comprometida poderemos criar um ambiente propício ao desenvolvimento pleno de nossas crianças e jovens, pavimentando o caminho para um futuro mais promissor. É imperativo que os municípios compreendam a importância de reduzir a relação alunos por professor e melhorar o desempenho no IDEB como passos cruciais para essa jornada.


quarta-feira, 23 de agosto de 2023

Questionando o Status Quo

A conjuntura econômica tem apresentado sinais de melhora. Com a nova equipe econômica, imediatamente se instaurou a expectativa de que ventos favoráveis soprassem sobre o país. Essa primeira impressão não é destituída de mérito, visto que tanto a retórica quanto as ações da recém-formada equipe liderada por Fernando Haddad demonstraram uma notável disposição em se comunicar, auscultar e ser sensível às necessidades da sociedade, deixando de lado os interesses restritos de pequenos grupos.

No decorrer de quase oito meses desde a posse do novo governo, constatamos uma redução na pressão inflacionária, um vislumbre de crescimento na atividade econômica e um alívio no espectro do desemprego. Embora essas tendências e perspectivas sejam positivas, ainda encontram-se aquém do patamar ideal. Elas indicam, entretanto, que a condução da política econômica está em trajetória ascendente. Contudo, permanecem algumas incertezas em relação ao equilíbrio das contas públicas, uma vez que a intenção de substituir o teto de gastos pelo "novo arcabouço fiscal" carrega consigo um véu de nebulosidade, deixando-nos sem clareza quanto a essa questão.

A expectativa aponta para um aumento na dívida líquida do setor público, que poderá saltar de 60% do PIB em 2023 para 68% em 2026, mantendo-se um cenário de resultado primário deficitário. Tal panorama pode resultar na necessidade de manter os juros básicos da economia em níveis elevados, visando atrair investidores para nossos títulos públicos.

Tal situação reflete-se em um ritmo de crescimento econômico subjugado e no abrandamento das contratações no mercado de trabalho. A restauração das perdas econômicas sofridas ao longo da última década, assim como das oportunidades de emprego que foram dissipadas, não ocorrerá nos próximos quatro anos. Nesse contexto, a recuperação e a melhoria dos indicadores demandarão um período mais longo para se concretizar. Paralelamente, a população continua a aumentar, a parcela em idade ativa cresce e os índices de pobreza aumentam.

Imersos nesse cenário, somos testemunhas de uma batalha pelo controle de cargos e ministérios, de esquemas de orçamentos secretos e artifícios das emendas "Pix", de um incremento na tributação da população e de benefícios direcionados aos setores mais abastados e bem organizados. Além disso, assistimos a demandas por mais recursos destinados aos fundos partidário e eleitoral. Em suma, as perspectivas para a população em geral são ruins, enquanto abundam benesses para aqueles que detêm o poder político e econômico.

A reflexão sobre os dilemas que afligem o Brasil é, frequentemente, distorcida, e a retificação dessas anomalias começa nos recantos municipais, estende-se às estruturas governamentais estaduais e finalmente alcança Brasília. No entanto, esse percurso raramente contempla a devida auscultação, consideração e resolução das reais demandas da população.

Nesse cenário de inquietante complexidade, convém lembrar o provérbio popular: "Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura." A capacidade de transformação emerge da persistência, da insistência em pautar os temas essenciais e da exigência por respostas tangíveis das autoridades que detêm o leme da nação. Assim, a inquietante interrogação se delineia: Até quando as aspirações do povo serão subjugadas pelos jogos de poder? Até quando a retórica suplantará a ação efetiva? É chegada a hora de questionar os agentes políticos não apenas com palavras, mas com a vigorosa demanda por mudanças palpáveis e responsáveis.


quarta-feira, 16 de agosto de 2023

Valorizar e investir em educação

Não é apenas o Censo que nos traz informações valiosas para o planejamento econômico e social. Existem outras estatísticas oficiais que podem e devem ser utilizadas para o desenvolvimento econômico e social. A Sinopse Estatística da Educação Básica, realizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), é uma delas. Com ela é possível realizar análises e planejar ações, além de obter uma avaliação prévia da gestão do ensino.

Em 2013, no Paraná, haviam 2,6 milhões de alunos matriculados na educação básica. Desses, 14,7% estavam na educação infantil, 59,0% no ensino fundamental e somente 18,5% no ensino médio. Precisamente 47,0% dos alunos matriculados no ensino fundamental eram estudantes de escolas municipais. Apenas 479,5 mil alunos estavam matriculados no ensino médio, dos quais 85,8% frequentavam escolas estaduais.

Em 2022, o total de alunos matriculados na educação básica teve uma queda de 4,5%, com uma variação absoluta de 110,8 mil alunos a menos em relação a 2013. Do total, 20,9% estavam na educação infantil, 55,6% no ensino fundamental e 17,3% no ensino médio. O número de matrículas no ensino fundamental em escolas municipais manteve a proporção de 47,0% do total, no entanto, houve uma redução absoluta de 69 mil alunos. As matrículas totais no ensino médio também experimentaram uma queda absoluta de 51 mil alunos.

É possível constatar que o número de crianças e jovens matriculados diminuiu. Por outro lado, os recursos investidos na educação básica aumentaram, o que nos leva a inferir que a qualidade do ensino também melhorou. O que deve ser avaliado é se a melhoria na qualidade do ensino é proporcional aos recursos investidos.

E não se trata apenas de verificar se a infraestrutura melhorou; também é necessário avaliar se houve investimento nos recursos humanos, ou seja, se valorizaram os profissionais envolvidos no ensino. Acredito que isso tenha ocorrido na maioria dos municípios, tanto que é perceptível a migração de muitos professores que anteriormente lecionavam em escolas privadas para as públicas. O piso nacional do magistério, implementado em 2008, melhorou a remuneração dos educadores das escolas públicas, ultrapassando as remunerações oferecidas pelo setor privado.

Com a redução do número de alunos e com o aumento dos recursos aplicados há que se planejar de forma eficiente os programas e ações nas séries iniciais do ensino fundamental. A estrutura física e os recursos utilizados devem ser de excelente qualidade e a valorização dos trabalhadores da educação também deve ser potencializada, incluindo melhores remunerações, um programa de qualificação continuada e excelentes condições de trabalho. 

As estatísticas educacionais são fundamentais para planejar e desenvolver a educação em diferentes níveis territoriais. Os dados do Inep exemplificam isso, permitindo análises e estratégias para aprimorar a gestão do ensino. A relação entre recursos investidos e qualidade do ensino também é crucial, sugerindo que valorizar profissionais e melhorar condições é essencial para elevar a experiência educacional.

Os gestores municipais têm a responsabilidade de usar recursos públicos na educação com eficiência. A queda nas matrículas e o aumento dos investimentos exigem abordagens estratégicas, principalmente nas séries iniciais do ensino fundamental. É vital investir em infraestrutura e na valorização dos profissionais, garantindo educação de qualidade e preparando futuras gerações para os desafios contemporâneos.


quarta-feira, 9 de agosto de 2023

Quem realmente deve decidir?

O conceito de desenvolvimento regional tem adquirido crescente relevância nas esferas políticas e sociais, sendo frequentemente invocado nas narrativas de campanhas eleitorais. Contudo, como é habitual em cada período eleitoral, os discursos proferidos durante as campanhas muitas vezes caem no esquecimento e poucos compromissos assumidos são efetivamente cumpridos. As iniciativas voltadas para o desenvolvimento econômico e social raramente são postas em prática e quando o são, geralmente se deve à pressão da sociedade civil.

O ideal seria que cada município implementasse um Conselho Municipal de Desenvolvimento Regional (CMDR), com uma abordagem diferenciada em relação a outros conselhos municipais existentes. Deveria ser composto majoritariamente por representantes da sociedade e das instituições de ensino superior presentes na região. A influência e a participação do poder público municipal precisariam ser reduzidas e se limitar a um papel de coordenação e assessoria.

Um CMDR deve ser norteado pelos princípios da participação democrática e do engajamento social. Seus membros devem possuir um profundo entendimento do contexto local e suas discussões, ações e propostas devem ser transparentes para assegurar a devida prestação de contas. O princípio democrático garante que todos os representantes sejam ouvidos e possam contribuir para as decisões tomadas. No entanto, todo esse processo perderá relevância caso os membros não tenham um entendimento aprofundado da situação econômica e social do município e da região em que atuam.

Em contrapartida, o conselho deve estar vigilante em relação aos riscos de fragmentação, interferências por parte dos agentes políticos e à falta de especialização. A fragmentação pode emergir quando os debates se tornam ideologicamente polarizados e conflituosos. Isso pode resultar em uma diversidade de opiniões que, por sua vez, podem gerar conflitos e atrasos no processo de tomada de decisões.

Do mesmo modo, é necessário ficar atento para evitar que o poder executivo e legislativo municipal interfiram nas discussões e decisões, uma vez que isso poderia resultar em riscos de manipulação política. Quando tal interferência ocorre, as decisões nem sempre refletem os verdadeiros interesses da comunidade, mas sim os interesses dos políticos no poder. Por outro lado, a falta de especialização por parte dos membros do conselho pode levar à inércia na formulação de ações ou até mesmo limitar as discussões, deixando de abordar questões complexas ligadas à temática.

Dada a importância desse tema, é fundamental alcançar um equilíbrio entre a participação da sociedade e a influência do poder público municipal, com uma inclinação para uma abordagem mais restrita na seleção dos representantes deste último. No entanto, não é suficiente apenas contar com representantes da sociedade; é crucial também incluir especialistas e autoridades públicas que possam contribuir com conhecimento técnico e orientações realistas relacionadas com a área.

A existência de um CMDR, além de outros fóruns de discussão sobre o assunto, é crucial para enfrentar os desafios existentes, uma vez que não podemos depender apenas da vontade e conhecimento dos agentes políticos. A sociedade precisa afirmar suas opiniões e desejos, e um conselho municipal representa a forma mais eficaz para isso ocorrer. Sua importância é equiparada à da Câmara de Vereadores e a atuação nos conselhos municipais deve ser encorajada, valorizada e respaldada pela legislação, recebendo força de lei.