quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Ausência da política rural municipal

O Paraná é um dos grandes protagonistas na produção de café no país, ocupando a posição de 6º maior produtor nacional e 4º maior exportador do grão e seus derivados. A distribuição espacial da produção de café no estado apresenta forte concentração, com mais de 50% da produção localizada no Norte Pioneiro, destacando-se os municípios de Carlópolis, Pinhalão, Ibaiti, Tomazina, Jaboti, Santo Antônio da Platina e São Jerônimo da Serra. Apucarana, situada no Vale do Ivaí, também se sobressai como importante produtor de café, representando 5,48% do Valor Bruto da Produção estadual, segundo dados da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná. Já as exportações estaduais de café estão concentradas nos municípios de Londrina, Cornélio Procópio e Rolândia, que são responsáveis por impressionantes 98,5% do total exportado.

O desinteresse de outras regiões na industrialização e exportação de café pode ser uma das causas dessas concentrações, visto que a cultura do café enfrentou grandes crises no passado. É importante questionar a atuação dos poderes públicos municipais no incentivo do setor. A falta de uma política agrícola mais efetiva nos municípios, com diretrizes claras para suporte à produção, assistência técnica e infraestrutura rural, é evidente.

Uma análise crítica revela que o apoio ao setor rural vai além da simples alocação de recursos. Na região de Apucarana, a cadeia produtiva do café, um segmento agroindustrial de grande relevância para o estado, possui expressivo potencial de desenvolvimento, mas sua evolução está atrelada à implementação de políticas públicas eficazes. No entanto, as ações de incentivo e apoio frequentemente se mostram dispersas e desarticuladas, carecendo de uma visão estratégica de longo prazo que integre produção, comercialização e inovação, promovendo a sustentabilidade e a competitividade do setor.

A situação da região de Apucarana é emblemática. O que impede o impulso necessário ao setor? A resposta pode estar na falta de prioridade dada pelos gestores públicos ao desenvolvimento sustentável do meio rural. Políticas eficazes nessa área demandam planejamento estratégico, investimentos consistentes e, sobretudo, vontade política para implementar ações transformadoras.

Existem meios, equipes especializadas e suporte de órgãos estaduais e federais disponíveis. O problema reside na alocação dessas ferramentas e na definição de prioridades pelos governos municipais. Sem uma estratégia clara e um compromisso real com o desenvolvimento rural, regiões como a de Apucarana continuarão a não explorar todo seu potencial produtivo e comercial no setor.

A descentralização das ações de incentivo e suporte é fundamental. Programas de assistência técnica, infraestrutura rural e apoio financeiro aos produtores precisam ser coordenados de forma que atendam às necessidades específicas de cada região. Somente assim será possível reviver os tempos áureos do café no norte do Paraná e assegurar que regiões como a de Apucarana voltem a ser protagonistas na produção, industrialização e, quem sabe, na exportação de café.

Vale citar um ditado popular que ilustra a necessidade de ação concreta e eficaz: “A melhor hora para plantar uma árvore foi há 20 anos. A segunda melhor hora é agora”. Este provérbio chinês nos lembra que, embora tenhamos perdido oportunidades no passado, o momento de agir é o presente. A implementação de políticas públicas eficazes é imperativa para transformar o potencial do setor rural em realidade concreta e próspera.


quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Desafio tecnológico para os prefeitos

O impacto da inteligência artificial (IA) no mercado de trabalho tem provocado discussões sobre o futuro das profissões e a substituição de trabalhadores por máquinas. A IA avança de forma significativa em diversas áreas e esse progresso, embora promissor em termos de produtividade e eficiência, impõe desafios sociais, particularmente no que diz respeito à destruição de empregos de baixa qualificação.

Conforme o relatório mais recente do Fundo Monetário Internacional (FMI), aproximadamente 60% dos empregos nas economias avançadas podem ser impactados pela IA, uma cifra alarmante que sugere a potencial substituição de uma parte significativa da força de trabalho atual. A tendência é que as economias emergentes e de baixa renda, embora em menor proporção, também enfrentem efeitos substanciais, com 40% e 26% dos postos de trabalho ameaçados, respectivamente. Isso indica que as ocupações mais suscetíveis são aquelas que exigem menor qualificação e que podem ser facilmente automatizadas.

Também é apresentada a aceleração do desempenho da IA, especialmente em tarefas que antes eram consideradas exclusivas de seres humanos. Em 1998, o desempenho inicial da IA estava muito abaixo da média humana em vários domínios, como caligrafia e fala. No entanto, ao longo dos anos, o desenvolvimento de novas tecnologias permitiu que ela ultrapassasse a capacidade humana em algumas dessas atividades.

Essa realidade nos leva a refletir sobre as possíveis implicações no mercado de trabalho. Profissões que dependem de tarefas repetitivas ou rotineiras estão particularmente vulneráveis. Assistentes administrativos, operadores de telemarketing, motoristas e trabalhadores de linha de produção estão entre os primeiros que podem ser substituídos, uma vez que os sistemas de IA conseguem executar essas atividades com maior rapidez, precisão e a um custo reduzido.

Por outro lado, as autoridades governamentais enfrentam o desafio de tratar de forma proativa a crescente desigualdade gerada por esse avanço. Enquanto a adoção da IA pode trazer ganhos significativos de produtividade, ela também amplia o fosso entre trabalhadores qualificados e não qualificados, entre economias ricas e pobres. A preparação dos países para lidar com esse cenário varia consideravelmente, conforme indicado pelo Índice de Preparação para a IA do FMI. Esse índice avalia as nações em áreas como infraestrutura digital, capital humano e políticas voltadas ao mercado de trabalho. Embora as economias avançadas e alguns mercados emergentes estejam mais bem preparados, muitos países de baixa renda carecem das condições necessárias para absorver essa nova onda tecnológica.

Diante desse cenário de rápidas transformações no mercado de trabalho, impulsionadas pela inteligência artificial, os novos prefeitos eleitos terão um importante papel na redução dos efeitos negativos dessa revolução tecnológica em seus municípios. A substituição de trabalhadores por máquinas e sistemas automatizados, especialmente em atividades que demandam pouca qualificação, pode agravar as já existentes desigualdades sociais. 

Os gestores públicos locais devem adotar políticas inclusivas e investir em programas de capacitação, em parceria com instituições de ensino e o setor produtivo, para preparar os trabalhadores para as novas demandas da IA. Essa abordagem é fundamental para evitar a exclusão social e fortalecer a economia, exigindo dos novos prefeitos uma gestão estratégica que considere o impacto da tecnologia nas pessoas e na economia local.


quarta-feira, 2 de outubro de 2024

O mundo paralelo dos governantes

Existe um fenômeno recorrente na política brasileira: a criação de uma narrativa de superioridade pelos governantes de plantão. Independentemente de quem assume o poder, parece haver um roteiro bem ensaiado, como se todos os problemas tivessem origem nos que os antecederam. A retórica é sempre a mesma: os que vieram antes nada fizeram, ou pior, fizeram tudo errado. Agora, tudo está mudado e, claro, para continuar ele deve ser reeleito ou seu indicado deve ocupar o cargo. Nessa narrativa, eles são os únicos salvadores da pátria, como se sem a sua presença as soluções econômicas e sociais fossem simplesmente inalcançáveis. Nesse jogo de poder, o governante atual é a “luz”, enquanto sem ele, tudo é trevas.

Esse discurso, porém, coloca em evidência uma desconexão gritante entre o mundo em que vivem muitos agentes políticos e o mundo real, habitado por nós, cidadãos comuns. Enquanto eles insistem em desenhar um cenário de progresso inquestionável, as pessoas enfrentam diariamente dificuldades que não são refletidas nas promessas de campanha nem nas narrativas de seus mandatos. Vemos uma realidade virtual, onde políticos criam feitos e progressos que parecem existir apenas em suas falas, e uma outra realidade, esta sim concreta, onde o povo lida com desemprego, falta de serviços públicos de qualidade e o aumento do custo de vida.

Talvez uma das maiores evidências desse “mundo paralelo” seja a forma como alguns políticos discutem o mercado de trabalho. Eles proclamam, com ar de triunfo, que vivemos um período de baixo desemprego, que em alguns estados e municípios existe até o pleno emprego. Propalam que há vagas de sobra e, portanto, não há desempregados. Mas quando olhamos de forma mais crítica, percebemos a falácia desse discurso. De fato, o que existe não é uma abundância de emprego para todos, mas sim uma falta de mão-de-obra qualificada. As vagas estão aí, dizem eles, mas a população não tem a qualificação necessária para preenchê-las. Portanto, o problema do desemprego persiste, embora camuflado pela retórica triunfalista de gestores públicos que parecem desconsiderar essa realidade.

Outro ponto de desconexão é a forma como muitos governantes tratam o orçamento público. Para eles, os recursos são infinitos, as contas públicas são um detalhe, e gastar é a prioridade. Quando questionados sobre o desequilíbrio fiscal, geralmente desviam o assunto ou lançam promessas futuras. Mas a verdade é que os déficits e dívidas criados por esses desmandos serão pagos pela sociedade, seja por meio de aumento de impostos, cortes em serviços essenciais ou piora nas condições de crédito do país.

O que nos resta, enquanto cidadãos, é buscar alternativas para controlar essa autonomia exacerbada dos agentes políticos. Precisamos de uma fiscalização mais rígida, de mecanismos que tornem a gestão pública mais transparente e, sobretudo, de mais participação da sociedade nas decisões que impactam diretamente suas vidas. Até que isso aconteça, uma das formas mais eficazes de minimizar os danos é escolher melhor os nossos representantes.

É nosso papel como cidadãos desconfiar das narrativas fáceis, questionar as promessas vazias e exigir mais responsabilidade e comprometimento daqueles que pedem o nosso voto. Como disse Rui Barbosa, “de tanto ver triunfar as nulidades, o homem chega a desanimar-se da virtude”. Que nos lembremos sempre da necessidade de estarmos atentos e críticos aos que governam, para que não nos conformemos com o mundo paralelo que eles tentam nos impor.


quarta-feira, 25 de setembro de 2024

Fumaça e responsabilidade humana

Sempre acompanhei nos noticiários o problema das queimadas nos Estados Unidos, Europa e Ásia. A fumaça que tomava conta das áreas urbanas parecia algo distante, fora da nossa realidade. Nunca imaginei que um dia presenciaria isso em nosso país, muito menos na cidade em que resido. Hoje, porém, a fumaça das queimadas no Brasil, em nosso estado e município, está no ar que respiramos. Será essa, de fato, a nova realidade que teremos de enfrentar?

Nos acostumamos a ver desastres ambientais ao redor do mundo. A passividade com que observamos desastres ambientais em outros países é reflexo de uma percepção distorcida de que esses eventos jamais nos afetariam. Agora, esta tragédia é real. Não apenas estamos sendo afetados, mas também somos coadjuvantes em um drama global. A fumaça das queimadas está aqui, sufocante e visível. Isso nos mostra que as ações humanas têm consequências e que ignorá-las não é mais uma opção.

Recentemente, assisti a uma palestra do professor Marcellus Caldas, da Kansas State University, que trouxe um panorama sobre as queimadas nos Estados Unidos. Ele explicou que, em muitos casos, são necessárias para controlar áreas produtivas. Isso me pareceu contraditório, mas, com a explicação do professor, entendi a importância das políticas de prevenção e monitoramento, comuns nos Estados Unidos e na Europa. Lá, universidades, institutos de pesquisa e órgãos governamentais monitoram as queimadas, emitem alertas e orientam a população, algo que deveria ser mais valorizado no Brasil.

Aqui, temos o MapBiomas, uma iniciativa colaborativa que reune ONGs, universidades e startups. O MapBiomas faz o mapeamento anual da cobertura e uso da terra, além do monitoramento mensal da superfície de água e das cicatrizes de fogo. Uma consulta simples na plataforma mostra dados preocupantes: de 1985 a 2023, o Brasil acumulou uma cicatriz de fogo de 16,2 milhões de hectares, o que corresponde a 40% da floresta brasileira em 2023. Esse número representa 23,4% da área total do país.

No Paraná, a cicatriz de fogo acumulada foi de 834 mil hectares, equivalendo a 4,2% da área total do estado. Já na Região Imediata de Apucarana, o total foi de 5,8 mil hectares, representando 1,8% da área total e 84,2% da área não vegetada.

Esses dados são mais do que estatísticas: são um alerta para as consequências ambientais e econômicas das queimadas. Elas afetam diretamente o setor produtivo, prejudicando a agricultura e a pecuária, além de trazer riscos notáveis à saúde da população. Precisamos admitir que o ser humano é tanto responsável quanto vítima dessas práticas. É nosso dever cívico e humanitário combater essas ações, e isso inclui a valorização das universidades e centros de pesquisa que monitoram e estudam essas questões.

As universidades desempenham um papel estratégico ao produzir conhecimento e conscientizar a sociedade sobre os riscos ambientais. Elas são agentes fundamentais no combate à destruição ambiental, oferecendo soluções baseadas em ciência e evidências. Em um cenário de negligência ambiental, são elas que iluminam o caminho para um futuro mais sustentável.

Como sintetizado pelo pensamento do filósofo Hans Jonas sobre o princípio da responsabilidade, temos que ele deve se impor sobre todas as formas de ação humana que possam causar efeitos de longa duração sobre as condições de vida da humanidade e do planeta. O monitoramento e a responsabilização pelas queimadas deve ser prioridade. A responsabilidade é nossa, e o futuro depende das ações que tomarmos agora.

quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Futuro promissor ou estagnado?

A produtividade do trabalho é um indicador central para o desenvolvimento econômico. No Vale do Ivaí, os números revelados pela taxa de crescimento anual da produtividade do trabalho, considerando dados de 2010 a 2021 acendem um sinal de alerta nos municípios. Com uma taxa média nacional em torno de 1% ao ano, conforme dados da RAIS e do IBGE, e comparando com o desempenho de outros países, como os Estados Unidos (1,5% ao ano), a China (4% a.a.) e a Índia (5% a.a.), a situação regional mostra-se ainda mais preocupante.

De acordo com os dados apresentados, apenas São Pedro do Ivaí, com uma taxa de 0,75% a.a., e Rio Branco do Ivaí, com 0,72% a.a., apresentam números um pouco mais animadores, ainda que distantes do crescimento registrado por países asiáticos, que são referência em produtividade. Abaixo deles, municípios como Lunardelli (0,44% a.a.) e Kaloré (0,34% a.a.) ficam ainda mais distantes do ideal. Em contrapartida, municípios como Novo Itacolomi (0,01% a.a.) e Jandaia do Sul (0,07% a.a.) têm índices alarmantemente baixos, o que coloca em evidência a fragilidade da economia local e a ausência de políticas públicas eficientes.

Diante dessa realidade, a pergunta que precisa ser feita é: o que os gestores públicos municipais estão fazendo para reverter esse cenário? A criação e implementação de políticas públicas voltadas para o aumento da produtividade são essenciais para garantir a competitividade regional e a melhoria da qualidade de vida da população. É notório que os municípios do Vale do Ivaí, em sua maioria, ainda carecem de políticas estruturadas para apoiar setores como a agricultura, a indústria e o comércio e serviços. Não há dúvidas de que, sem um apoio consistente aos produtores rurais e às indústrias locais, a economia regional poderá estagnar.

A agricultura, que é um dos principais motores econômicos da região, precisa de suporte, assim como o setor industrial requer incentivos para inovação, pesquisa e desenvolvimento de novos produtos. Quanto ao comércio e serviços, a ampliação de capacitações e a melhoria da infraestrutura são medidas que podem trazer um impacto imediato. Todos esses setores, somados, têm potencial para aumentar significativamente os índices de produtividade, gerando mais empregos, renda e desenvolvimento para os municípios.

Outro ponto a ser destacado é a qualidade dos serviços educacionais. A educação é a base de qualquer desenvolvimento sustentável, e o descaso com esse setor reflete-se, inevitavelmente, na baixa produtividade do trabalho. É preciso que os gestores municipais voltem seus olhos para a criação de um ambiente educacional de qualidade, que prepare os jovens para o mercado de trabalho e para serem mais produtivos em suas futuras ocupações. A ampliação das oportunidades de ensino, aliada à melhoria das condições estruturais e pedagógicas das escolas, são fatores indispensáveis para o crescimento econômico. Se não investirmos no aprendizado dos jovens hoje, amanhã estaremos condenados a repetir os erros do passado e perpetuar as baixas taxas de crescimento da produtividade.

Os números não mentem. A baixa produtividade do trabalho no Vale do Ivaí é reflexo direto da inércia das políticas públicas municipais. Há a necessidade de se repensar as estratégias de desenvolvimento local, com um olhar atento para a agricultura, indústria, comércio e serviços e, sobretudo, para a educação. Como bem disse o escritor francês Voltaire: “O trabalho afasta de nós três grandes males: o tédio, o vício e a necessidade”.


quarta-feira, 11 de setembro de 2024

Compromisso com a qualidade

Às vésperas de mais uma eleição municipal, a questão da ineficiência no uso dos recursos públicos deve ganhar destaque. O setor público brasileiro é conhecido pela sua capacidade arrecadatória, financiada pela população e pelas empresas por meio de uma carga tributária expressiva. No entanto, o que deveria resultar em uma eficiente prestação de serviços à sociedade, muitas vezes se traduz em má gestão e desperdício. Em grande parte dos municípios brasileiros, a aplicação dos recursos arrecadados é realizada de forma ineficiente.

A gestão pública, em muitos casos, falha não apenas em fazer o que deveria, mas também em se comprometer com o bom uso dos recursos disponíveis. Poucos são os gestores que realmente se preocupam em adotar uma postura de responsabilidade com o erário público, e a ausência dessa preocupação se reflete no baixo índice de qualidade dos serviços prestados.

Neste contexto, cabe à população exigir mais dos candidatos ao cargo de prefeito em 2024. É fundamental que os eleitores demandem um compromisso claro e transparente com a melhoria da qualidade do gasto público. Os gestores eleitos precisam adotar posturas que incentivem o controle social e a transparência. As contas públicas devem ser abertas ao escrutínio da sociedade, garantindo que os gastos sejam direcionados às áreas prioritárias e que tragam o máximo de benefício para a coletividade.

Infelizmente, muitos gestores públicos parecem desconhecer ou ignorar os princípios básicos de administração e não praticam a eficiência, a eficácia e a efetividade. A eficiência diz respeito à capacidade de realizar as tarefas da melhor forma possível, utilizando os recursos de maneira correta e sem desperdício. É fazer mais com menos. Este deveria ser o foco dos prefeitos: otimizar os recursos arrecadados, eliminando gastos desnecessários e garantindo que cada real seja usado de forma produtiva.

Já a eficácia está ligada ao cumprimento de metas e à entrega de resultados. Um gestor eficaz é aquele que estabelece objetivos claros e os atinge com precisão. No entanto, quando olhamos para as campanhas eleitorais e, mais tarde, para as leis orçamentárias, percebemos que muitos municípios não possuem metas concretas. Essa ausência de direcionamento claro é alarmante, pois, sem metas, é impossível avaliar se estão no caminho certo. Quando não há objetivos definidos, o debate público se perde e a gestão pública se torna dispersa e ineficaz.

A efetividade é a capacidade de gerar impacto, de fato, na vida das pessoas. Outro ponto nevrálgico, pois sem objetivos bem traçados, não há como medir se o uso dos recursos está trazendo benefícios reais para a população. Um gasto público que não gera resultados palpáveis é um desperdício, por mais eficiente que seja na execução.

Diante desse quadro, é necessário que a sociedade cobre um novo pacto de governança nas eleições municipais. O compromisso com a transparência, a responsabilidade fiscal e a qualidade do gasto público devem ser centrais no debate eleitoral. Prefeitos que assumam o mandato em 2025 devem ser pressionados a adotar uma gestão pautada em metas claras e mensuráveis, que busquem não apenas cumprir as exigências mínimas da legislação, mas efetivamente melhorar a vida das pessoas.

Os eleitores têm o poder de exigir uma mudança nesse ciclo vicioso de má gestão e ineficiência, basta optarem por candidatos que entendam a diferença entre eficiência, eficácia e efetividade e que estejam comprometidos em utilizar os recursos públicos de maneira responsável.


quarta-feira, 4 de setembro de 2024

Méritos da educação pública

Estamos em uma época do ano em que os holofotes se voltam para os resultados das avaliações da educação básica, e é inegável que muitos municípios brasileiros têm razões para comemorar. Entretanto, não podemos ignorar que essa celebração acontece em um momento de intensa movimentação política, em plena campanha para as eleições municipais. Isso, inevitavelmente, levanta uma questão crítica: estamos testemunhando uma verdadeira valorização da educação ou apenas mais um capítulo de oportunismo e sensacionalismo?

É importante reconhecer que os avanços na educação municipal são frutos de esforços contínuos e persistentes. Contudo, à medida que os políticos locais, muitos deles candidatos à reeleição ou apoiadores de aspirantes ao cargo, começam a utilizar esses resultados como bandeiras de campanha, somos levados a questionar a autenticidade dessas narrativas. É tentador para os gestores públicos apresentarem os bons resultados como uma conquista pessoal, um troféu a ser exibido durante os debates e nas propagandas eleitorais. Porém, essa visão é, no mínimo, simplista.

Os verdadeiros responsáveis pelos avanços na educação municipal são os professores, os coordenadores pedagógicos, os diretores de escola e todos os profissionais que estão na linha de frente do processo educativo. São eles que enfrentam os desafios cotidianos, que lidam com as limitações estruturais e orçamentárias e que se dedicam com afinco ao desenvolvimento intelectual e humano das crianças. Quando os resultados são positivos, é a esses profissionais que devemos render os maiores elogios. A eles pertence o mérito das conquistas alcançadas.

Não há como desconsiderar o papel fundamental dos trabalhadores da educação, que têm se mostrado incansáveis na busca pela melhoria contínua. É preciso lembrar que, por muito tempo, as escolas públicas foram alvo de preconceito e descrédito. Muitos pais, temerosos pela qualidade da educação oferecida, preferiam buscar alternativas no setor privado. Hoje essa realidade começa a mudar, e não é sem razão que há cada vez mais confiança na educação municipal. As escolas têm melhorado suas infraestruturas, e o corpo docente tem se qualificado continuamente, em parte graças ao piso nacional do magistério, que trouxe mais estabilidade e atratividade para a carreira.

O que se vê agora é o resultado de um trabalho coletivo e comprometido, mas também é fruto de políticas públicas que, quando bem implementadas, criam as condições necessárias para que esses profissionais possam exercer seu trabalho com excelência. No entanto, não podemos ignorar o tom sensacionalista que permeia muitos dos anúncios feitos por prefeitos e outros gestores públicos. Em tempos de eleição, a dosagem das palavras e a ênfase exagerada nos supostos méritos pessoais muitas vezes beiram o absurdo. A tentativa de colar os resultados das avaliações na imagem de candidatos é desrespeitosa com aqueles que verdadeiramente fizeram a diferença.

É preciso que a sociedade reconheça o valor dos educadores e mantenha um olhar crítico sobre as narrativas que nos são apresentadas. A educação pública de qualidade é um direito de todos e uma obrigação do Estado, mas sua construção diária é obra de muitos, e não de um só. Os gestores têm, sim, um papel importante, mas ele deve ser o de facilitador, criando as condições ideais para que a educação floresça. A verdadeira liderança está em reconhecer o valor do coletivo, em apoiar e fortalecer quem está na linha de frente, e não em se apropriar dos méritos alheios.