quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

O monstro está de volta

Como todos já sabem a economia funciona em ciclos onde se alterna períodos de prosperidade, estagnação, recessão e depressão. É comum os formuladores de políticas econômicas buscarem alternativas para evitar as três últimas fases, porém a economia não é uma ciência exata e não existem “fórmulas mágicas” para estabilizar os fundamentos da economia.

Sempre o principal agente a anunciar medidas e soluções para os problemas econômicos é o ministro da Fazenda (atual ministro da Economia). Quando este personagem começa a não ter as soluções é comum outros agentes surgirem para comentar as questões de conjuntura econômica. Isto já aconteceu inúmeras vezes quando o ministro da Fazenda deixa o protagonismo, que passa a ser exercido pelo presidente do Banco Central ou mesmo outro ministro de estado.

O ministro Paulo Guedes está vivenciando este. Suas aparições começaram a não trazer muita confiança para os agentes políticos e para o mercado. Este desgaste é motivado pela incapacidade do governo de controlar a escalada dos preços que já começa a incomodar as classes mais pobres do país. De janeiro a outubro deste ano a inflação acumulada, medida pelo IPCA, está baixa, 2,22%, porém o grupo de alimentação e bebidas teve um aumento de 9,37%. Isto faz com que os mais pobres e os assalariados, que tiveram reajustes salariais limitados aos índices gerais de inflação, perderem poder de compra, perder qualidade de vida, pelo simples fato de acessarem quantidades menores destes produtos essenciais.

O subgrupo de alimentação no domicílio ficou maior para o período, 11,97%. E as perspectivas não são nada boas. Os preços da soja, milho, trigo e carnes tendem a se manterem em alta o que indica que a alimentação continuará pressionando os brasileiros assalariados e para os mais pobres.

Com o mesmo comportamento temos o IGP-M com um acumulado de 18,1% de janeiro a outubro e com expectativa de fechar o ano com um acumulado de 23,6%. Este indicador não é utilizado para corrigir salários e nem benefícios pagos pelo governo. Ele é utilizado para efetuar ajustes anuais em contratos de aluguel e outros contratos como energia elétrica, telefonia, seguros e planos de saúde. Mais um motivo de preocupação para os assalariados e, neste caso, também para a classe média.

O mostro da inflação está de volta de uma forma disfarçada, uma vez que não é o índice geral que preocupa, mas o índice apurado para o grupo de alimentos e bebidas. No acumulado geral a expectativa é que a inflação acumulada, medida pelo IPCA, fique em 3,54%, o menor desde 2017. Porém, os preços dos alimentos preocupam e soma-se a esta preocupação a incapacidade que o governo tem de estender o pagamento do auxílio emergencial com a mesma intensidade que em 2020 e o aumento do desemprego com uma retomada tímida da atividade econômica.

O governo federal está diante de uma situação conjuntural adversa e precisa de soluções imediatas para salvar o que resta da popularidade do presidente. Sem medidas efetivas para a retomada do crescimento da economia as contas públicas continuarão deficitárias e devem retomar ao equilíbrio somente em 2030, ou seja, passaremos todo o governo Bolsonaro e os próximos dois mandatos com déficit primário e sem perspectivas para melhora na economia a partir de ações estruturantes do governo federal.

Muitos governistas e defensores do presidente podem achar que as coisas estão boas, só que não estão. Resta saber o que os nossos agentes políticos estão pensando como soluções efetivas para estes problemas.

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