quarta-feira, 20 de outubro de 2021

A efemeridade das ações

A cada semana que passa vemos os brasileiros retornando ao antigo normal. Os estádios de futebol com torcidas, praias lotadas nos finais de semana e as aulas retornando ao modo presencial, inclusive sem o distanciamento social em algumas localidades.

Já era de se esperar que isto acontecesse, porém temos que refletir sobre as condições destes retornos. Nossa economia já sofreu muito com esta pandemia, o que ocasionou muito desemprego, muitos prejuízos para os empreendedores, endividamento para o setor público e o aumento da pobreza e da extrema pobreza, com um destaque para o aumento da fome.

É claro que este é um cenário global e temos que compreender isto, mas também temos que nos preocupar com a situação econômica e social interna. Não podemos aceitar passivamente o deterioramento de nossos indicadores econômicos e sociais combinado com uma inércia absurda de nossos governantes. Isto mesmo, inércia.

Muitas pessoas irão questionar e afirmar que os governos estão preocupados com a situação e que estão tomando medidas para auxiliar a população. Concordo que há a preocupação. Também concordo que estão tomando algumas medidas visando amenizar o agravamento da situação social. Porém, temos que refletir sobre o caráter efêmero destas medidas.

Precisamos de medidas estruturantes. De alternativas que se consolidem como políticas públicas. Precisamos de política de estado e não de política de governo. Já estamos há mais de dezenove meses sofrendo os efeitos da pandemia e muito pouco se discutiu sobre medidas perenes para o restabelecimento do crescimento econômico e consequente retomada dos empregos perdidos e a criação dos empregos necessários pela própria dinâmica social interna.

É claro que as medidas tomadas até o presente momento foram (e são) importantes, foram ações de políticas de governo em todas as esferas que auxiliaram as camadas mais vulneráveis de nossa sociedade. Entretanto, no período da pandemia deveríamos ter iniciado as discussões para a criação de algumas políticas de estado. Mas muito pouco foi feito neste sentido.

O que já foi feito teve (e continua tendo) a sua importância. Foram ações necessárias de curtíssimo prazo, mas os formuladores de políticas econômicas também deveriam se ocupar do médio prazo, pois há a necessidade de se aproximar o nível de desemprego observado ao nível de desemprego natural, e isto somente ocorrerá com um crescimento econômico mais vigoroso neste e nos próximos anos.

É neste ponto que identificamos a inércia: as políticas econômicas em curso não estão sinalizando para uma conjuntura econômica que possibilite um crescimento econômico robusto nos próximos anos. Pelo contrário, teremos crescimento bem abaixo da média dos países em desenvolvimento e até abaixo do crescimento média do América Latina.

As expectativas de mercado apontam para um crescimento do PIB de 2021 em 5% ante uma queda de 4% em 2020. É bom, mas poderia ser melhor. Para o próximo ano a expectativa é de um crescimento de apenas 1,5%, seguidos de crescimento na faixa mediana dos 2,3% de 2023 a 2025. Soma-se a isto o fato de nossa moeda estar fortemente desvalorizada, a inflação alta e persistente, os juros subindo e as contas públicas em déficit primário e nominal. A tempestade perfeita.

O debate das políticas públicas deve ser compartilhado com a sociedade e os técnicos e agentes políticos devem ser transparentes em suas pretensas ações porque o que estamos vendo é muita coisa sendo feita, mas com poucas perspectivas de melhoras que extrapolem o ano eleitoral.


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