quarta-feira, 4 de maio de 2022

É só o foguete

Um assunto recorrente nos grupos de mensagens instantâneas está sendo o preço da gasolina. A Petrobrás está há quase sessenta dias sem efetuar aumentos dos combustíveis nas refinarias, porém toda semana estamos presenciando reajustes persistentes nos preços. Oras bolas, se a Petrobrás não está aumentando os preços na refinaria por que os postos estão aumentando os preços para os consumidores?

Temos que lembrar que, por conta do conflito entre Rússia e Ucrânia, o preço do barril do petróleo subiu para novas máximas de mercado no começo do mês de março deste ano. A gasolina teve seu preço majorado em cerca de 17% em uma semana. Entretanto, os preços no mercado internacional já arrefeceram e já estão bem abaixo das máximas de março. Mas estas reduções não foram repassadas para o consumidor final. Pelo contrário, estamos sendo massacrados por aumentos nos preços, mesmo com a estabilidade dos custos na refinaria.

Estes eventos se contrapõem aos postulados econômicos neoclássicos de transmissão completa de choques nos custos para os preços finais. O preço do produto aumenta de forma rápida quando os choques de custos são de alta, só que quando temos choques de baixas de custos os preços tendem a diminuir de forma lenta e, em alguns casos, sequer reduzem. Em economia chamamos este evento de assimetria na transmissão de preços (ATP). De forma mais simples é chamado de efeitos “foguete” e “pena”.

Os combustíveis continuam caros por conta dos efeitos “foguete” e “pena”. Mas os preços não estão se mantendo, estão subindo sem que haja aumentos de custos. Pode ser ganância? Pode ser precaução? Pode ser excesso de demanda? O que é certo é que os preços praticados pela Petrobrás para a gasolina estão defasados em cerca de 11% em relação aos preços de importação, segundo dados da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom). Isto deve levar a um novo anúncio de reajustes de preços nas refinarias.

Ocorreram diversas manifestações e críticas aos preços dos combustíveis praticados em Apucarana e Arapongas, que figuravam entre os mais caros do estado. Nos primeiros reajustes do ano os preços destas praças subiram menos e saíram do topo da lista dos mais caros. Só que, gradativamente, os preços destas praças foram subindo e, na semana de 24 a 30 de abril, voltaram para o topo dos preços para a gasolina comum.

Os preços da gasolina comum em Apucarana estão 10% mais caros na média se comparados com os da praça com o menor preço médio no estado. Em Arapongas a diferença nos preços médios é de 9%. Isto nas comparações com os preços assinalados na pesquisa da Agência Nacional do Petróleo (ANP), mas há muitos comentários de que os preços estão bem abaixo nas cidades vizinhas que não aparecem no levantamento da ANP.

Há quem diga que a culpa é do próprio consumidor por não se interessar em acompanhar os preços e se acostumar a abastecer seus veículos nos mesmos locais. É possível que os aumentos de preços tenham relação com o comportamento do consumidor, sim. Se os consumidores refletirem mais sobre os preços dos combustíveis nos postos poderão forçar uma concorrência por centavos e travar os efeitos de alta nos preços.

Para além disto, temos um mercado que opera em concorrência imperfeita com todos os componentes estudados em mercados poucos competitivos. Uma alternativa, além da regulação de órgãos federais, seria as instituições de defesa dos consumidores locais estarem mais vigilantes na defesa da população, pois não estamos experimentando o efeito “pena”, somente o “foguete”.


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