quarta-feira, 27 de abril de 2022

Sem fulanizar

Com a greve dos funcionários do Banco Central (BC) iniciada no dia 1º de abril muitos serviços deixaram de serem realizados e, dentre estes, a produção de estatísticas econômicas gerou uma espécie de “apagão” informacional. Sem estas estatísticas muitos analistas e investidores ficaram sem uma “bússola” para orientar suas ações.

Normalmente divulgadas todas as segundas-feiras, as expectativas de mercado consolidam as projeções elaboradas por bancos, gestoras de recursos, empresas não-financeiras, consultorias, associações de classe e universidades. Estas expectativas são divulgadas pela sua mediana e servem como uma espécie de “termômetro” da economia brasileira para o curto e médio prazo e são utilizadas para subsidiar as tomadas de decisões tanto em nível individual quanto corporativo. Estas expectativas também auxiliam as decisões de política monetária que é a principal ferramenta no combate à inflação e voltaram a serem divulgadas nesta semana.

Pesquisa publicada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) aponta que 76% da população brasileira teve sua situação financeira afetada pelo aumento dos preços. A inflação é uma das principais preocupação da população e este cenário não se apresenta muito favorável. A expectativa de inflação, na sua mediana, está em 7,65% e apresenta tendência de alta. Mesmo com isto a economia deverá crescer 0,7% neste ano e irá abrandar um pouco o desemprego.

A trajetória da inflação poderia estar acima dos níveis atuais, porém a ação do Banco Central em iniciar a escalada dos juros num sentido reverso dos outros países amenizou o cenário dos preços. Por outro lado, a alta dos juros serve de “freio” para o desempenho do PIB, que apresentava potencial de crescimento acima de 1,5% no ano.

Diante da manutenção do cenário de aumento dos preços o Banco Central deverá aumentar os juros básicos da economia na reunião da próxima semana. E já tem um indicativo de que antes de se iniciar um possível afrouxamento monetário haverá outra elevação dos juros. Com isto, os juros, hoje em 11,75% ao ano, deverão encerrar 2022 em 13,25%. Juros maiores atraem investimento direto para o país, que deverá fechar o ano totalizando US$ 60 bilhões, o que ajuda na redução da taxa de câmbio.

Como antecipado neste espaço, muito pouco será melhorado nos resultados efetivos dos agregados macroeconômicos de 2022. A preocupação da política econômica deverá focar a manutenção dos indicadores nos níveis atuais para 2022 e a melhora para o ano de 2023.

Somente uma instabilidade política e boatos especulativos às vésperas de uma eleição presidencial é que podem agravar as projeções atuais. Por conta disto, os analistas e formuladores de políticas econômicas deverão se manter vigilantes para agir com a devida assertividade quando estes possíveis eventos ocorrerem.

E quando falo dos formuladores de políticas econômicas estou me referindo a pessoas específicas, sem fulanizar. Estas pessoas específicas são: o ministro da Economia, o presidente do Banco Central e o presidente da República. Eles que devem se preocupar com a deterioração dos indicadores macroeconômicos e agir com eficiência e responsabilidade.

As ações recentes de antecipação do 13º salário de aposentados e o saque extraordinário do FGTS irão injetar mais recursos na economia visando potencializar o PIB, mas isto também pressionará a inflação. A eficiência das ações está no já anunciado aumento dos juros. Mas precisamos de mais crescimento e menos inflação e sabemos a quem cobrar por isto. A bola está com eles.


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