quarta-feira, 28 de junho de 2023

Desafios de coordenação

Os recentes acontecimentos na economia brasileira fornecem indícios do que pode ocorrer nos próximos meses e até mesmo nos próximos anos. O fato de o Banco Central ter decidido manter a taxa de juros básica da economia em 13,75% ao ano, mesmo diante de uma expectativa de inflação de 5%, revela que enfrentaremos consideráveis turbulências no futuro próximo.

O Banco Central indica que só reduzirá as taxas de juros quando a inflação esperada para 2025 estiver em linha com a meta de 3%, porém, atualmente, essa expectativa é de 3,8%. No entanto, o uso de taxas de juros elevadas como estratégia de combate à inflação é questionável, pois é mais eficaz contra a inflação causada pelo excesso de demanda, quando os preços aumentam devido à alta procura dos consumidores. Embora nossa inflação tenha uma componente de demanda, também há um significativo impacto relacionado aos custos.

Os preços estão em ascensão devido a diversos fatores, como a ineficiência produtiva, a desvalorização de nossa moeda, que encarece os produtos e insumos importados, o alto custo da energia elétrica e a carga tributária excessiva em alguns setores econômicos, entre outros aspectos. Portanto, o combate à inflação não pode depender apenas de taxas de juros elevadas; é necessário incorporar outros componentes nessa estratégia.

É necessária uma coordenação eficaz das políticas econômicas para impulsionar a retomada sustentável do crescimento no Brasil. Embora a economia esteja melhorando, podemos alcançar uma recuperação mais robusta, considerando as crises recentes que levaram milhões de brasileiros à pobreza e ao desemprego. É crucial garantir que essa retomada seja sustentável, buscando um crescimento médio compatível com o aumento populacional e as crescentes demandas por bens e serviços.

Estimamos um crescimento de aproximadamente 2,2% para este ano, 1,5% em 2024 e 2% em 2025. Esses números são insuficientes considerando o impacto sofrido por nossa economia, especialmente considerando que ainda não nos recuperamos totalmente das crises de 2008, 2015/2016 e 2020. É imperativo que busquemos mais empregos e salários reais mais elevados. Precisamos implementar políticas públicas estruturais, precedidas por políticas inclusivas. No entanto, a responsabilidade por esse processo não recai exclusivamente sobre o governo federal. Os estados e municípios também devem se preocupar com essa questão. É importante questionar o que esses entes subnacionais estão fazendo para impulsionar o crescimento econômico e promover melhorias nas condições sociais.

Estamos diante de uma reforma tributária que visa simplificar o sistema, porém, resultará em um aumento da carga tributária para a população. No entanto, surge uma importante questão: os impostos pagos serão revertidos em serviços públicos de maior qualidade e em uma maior quantidade?

Tenho minhas dúvidas de que isso ocorrerá enquanto a população continuar acreditando que nossos políticos têm o poder de agir sem prestar contas aos eleitores. É nesse ponto que devemos fortalecer o controle social não apenas nas finanças públicas, mas também na atuação de nossos representantes, garantindo que os recursos arrecadados sejam utilizados de forma eficiente e transparente e que os políticos sejam responsabilizados por suas ações perante a sociedade. Somente assim poderemos aspirar a um sistema no qual a carga tributária seja justamente revertida em serviços públicos de qualidade. Essa é uma demanda urgente e essencial para a construção de um país mais justo e próspero para todos.


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