quarta-feira, 10 de março de 2021

E agora, Jair?

A cada dia que passa mais se consolida o quadro de incerteza acerca da conjuntura de curto prazo para a economia brasileira. A tão sonhada retomada do crescimento após a crise fiscal de 2015 e 2016 foi totalmente sobreposta pela agora tão sonhada recuperação da crise econômica da pandemia.

Se somarmos a estas duas a crise financeira internacional de 2008 temos que nossa economia está operando com um nível de atividade com atraso de dez anos. Agora a grande dúvida reside no comportamento de nossas autoridades no trato da política econômica para os próximos meses e anos.

Estamos vivenciando um agravamento da questão fiscal onde nossos agentes políticos parecem não estar se preocupando com o aumento das despesas sem o devido lastro do lado das receitas, gerando sucessivos déficits nas contas públicas. E o pior é que isto está ocorrendo nas esferas federal, estaduais e municipais e em todos os poderes. Deputados e senadores querendo ampliação dos gastos e reivindicando mais recursos para as emendas parlamentares e o mesmo movimento ocorrendo com os legislativos estaduais e municipais, inclusive com o aumento de gastos com salários e cargos comissionados.

Muitas pessoas apostavam na retomada vigorosa da atividade econômica brasileira em 2021. Isto não irá ocorrer. Estamos com os indicadores conjunturais demonstrando que teremos outro ano difícil na área econômica, principalmente pela demora no processo de vacinação, que é a única condição para a retomada com a devida segurança. A vacinação está ocorrendo no resto do mundo e a retomada está começando.

Também estamos vivenciando um aumento da demanda de insumos e os preços das commodities estão sofrendo pressão de alta. E tudo isto em dólar. Se nossa economia estivesse tendo o monitoramento e ação que deveria ter tido por parte do governo talvez não estivéssemos com nossa moeda tão desvalorizada e o aumento dos preços das commodities não estaria impactando tanto no custo de vida dos brasileiros.

Somente nos dois primeiros meses deste ano as commodities de energia (petróleo brent, gás natural e carvão) tiveram um aumento dos preços de 23,16% em moeda nacional com sua ação potencializada pela desvalorização cambial do real, o que já levou a uma aumento médio na refinaria de Araucária(PR) em 54,4% no preço da gasolina e de 43,3% no diesel. O mesmo está ocorrendo com o etanol, uma vez que o preço do açúcar está subindo no mercado internacional e ocorrerá um atraso na colheita da cana no interior paulista por conta do atraso dos insumos durante o plantio e pela estiagem em 2020.

Não obstante à retração de 4,1% do PIB em 2020, as previsões são de retração nos dois primeiros trimestres de 2021 como consequência da não retomada da economia causada pelo atraso no processo de vacinação. Com isto a base tributável, que é a principal fonte de receita do setor público, tende a se manter reduzida e não temos iniciativas de reduções do lado da despesa, gerando a possibilidade de manutenção do déficit fiscal por mais alguns anos.

Assim, o risco-país e a taxa de câmbio aumentam, a bolsa de valores cai e o governo se vê obrigado a aumentar as taxas de juros, o que freia, ainda mais, a atividade econômica, gerando desemprego, que estava em 14,6% no terceiro trimestre de 2020 e já se falam em ultrapassar 15% ao longo do ano de 2021. Portanto, estamos diante de um quadro de estagflação, experimentando aumento de inflação combinado com aumento do desemprego. Resta-nos parafrasear Carlos Drummond de Andrade e perguntar: e agora, Jair?

3 comentários:

  1. Seus artigos estão cada vez mais consistentes. Parabéns

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  2. Atualmente, + que antes, é difícil entender economia dissociada da política ou politicagem. Não existe mais três poderes independentes. Na realidade nunca existiu, mas havia um respeito entre ambos para se auto valorizar. O respeito desapareceu com a implantação do aparelhamento nos poderes que abriu portas para interferência entre ambos. Não há + espaço para falar em economia sem citar a política e a justiça.

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  3. Não sou economista, mas creio que se afrouxar a PEC do Teto dos Gastos para possibilitar investimento público para retomada de obras como forma de geração de emprego e renda poderia aliviar a crise econômica.

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