Nesta semana o ex-ministro,
ex-embaixador, ex-deputado, economista e professor Delfim Neto falou, em
entrevista no programa Diálogos com Mário Sérgio Conti, que “as vinculações são
os mecanismos mais eficientes para a ineficiência”. Tal afirmação faz alusão à
questão das vinculações de receitas para efetuar despesas com saúde e educação
e me fez lembrar dos diversos debates e discussões capitaneados pelo economista
e professor Ruy Barbosa, na FECEA. Ele também afirmava que a questão das
vinculações constitucionais podem se caracterizar como uma “faca de dois
gumes”, principalmente para as prefeituras de cidades com menos de 50 mil
habitantes.
Nos municípios e estados, vinte e cinco por cento da receita de impostos e de transferências devem ser
aplicado na manutenção e desenvolvimento do ensino. Já para a saúde os
municípios tem que aplicar quinze por cento e os estado doze por cento da mesma
composição de receitas. Pode até parecer pouco dinheiro diante de dois segmentos
de serviços públicos que possuem tantas fragilidades e carências.
Mas Delfim Neto teve a
coragem de dizer que os desperdícios de recursos na saúde e na educação são
brutais. E são mesmo. Não precisamos avocar os exemplos citados pelo professor
na entrevista. Qualquer cidadão tem ao menos uma história que ouviu ou que ele
mesmo vivenciou de ações descabidas em algum posto de saúde ou escola pública,
por este vasto país, aonde médicos e enfermeiros não cumprem horário ou mesmo
não trabalham, de professores que não lecionam os conteúdos de suas
disciplinas, de obras e aquisições desnecessárias, dentre tantas outras coisas
que fazem com o dinheiro público.
A sociedade tem que começar
a cobrar da administração pública mais eficiência. Antes dos agentes políticos
pensarem em aumentar a carga tributária sobre a população eles tem que
demonstrar de forma efetiva que estão aplicando com qualidade e
responsabilidade os recursos que são arrecadados. No ano de 2014 foram
arrecadados pelo setor público cerca de R$ 2,2 trilhões, sendo que deste total
R$ 492,7 bilhões foram arrecadados pelas prefeituras e R$ 681,9 bilhões pelos
estados. E daí perguntamos: será que todo esse volume de dinheiro foi aplicado
adequadamente, de forma eficiente e aonde realmente era necessário?
Com os ensinamentos do
professor Ruy Barbosa compreendi que a vinculação mera e simples de recursos
não garante a eficiência e eficácia no atendimento da população. Pelo
contrário, em municípios pequenos pode até se constituir em um grande problema.
Esses municípios podem não conseguir aplicar todo o valor exigido pela
legislação pelo simples fato de que não é necessário e, para dar cumprimento ao
que apregoa a legislação, acabam efetuando despesas inúteis.
Já passou da hora de
se começar a discutir limites para os gastos públicos. Neste ponto o governo
Michel Temer teve a coragem de reagir e indicar tal possibilidade. Mas toda a
sociedade tem que participar da discussão. O assunto não pode ficar restrito a
decisões de gabinete – sem a participação popular, pois a todos interessa.
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