domingo, 24 de março de 2019

“Après moi, le déluge”

A cada dia que passa mais e mais pessoas começam a se preocupar com o futuro de nosso país. Parece inevitável que estejamos caminhando para o início de um período muito conturbado para todos. Tal abordagem pode até parecer alarmista e pessimista, mas classifico-a como sendo realista. Não se vê e nem se ouve nossos políticos anunciarem suas preocupações com o desemprego, com o baixo crescimento da economia, com o alto endividamento do setor público, com o nível da inflação e por aí adiante.

O que presenciamos é que os deputados federais e senadores comentam sobre o déficit público e sobre a necessidade de se efetuar reformas para equilibrar as contas públicas. Mas em nenhum momento estes se colocam de forma efetiva na defesa dos reais interesses dos cidadãos brasileiros. Eles se limitam a anunciar que é necessária a reforma da Previdência para equilibrar as contas públicas e sequer ensaiam a discussão de outras formas alternativas de se reduzir o déficit fiscal.

De forma análoga, não vemos, nem ouvimos e nem lemos, nenhuma declaração de nossos deputados estaduais sobre estas mesmas questões. É como se na dimensão política do estado não tivéssemos estes problemas econômicos. O mesmo acontece com os vereadores: nenhuma citação ou preocupação com questões financeiras e econômicas da sociedade. Se depender das questões econômicas conjunturais ou estruturais nossos deputados estaduais e nossos vereadores não terão sequer uma nova ruga na face.

Quando se anuncia que a inflação média brasileira para os próximos anos deva ficar em torno de 4% ao ano as pessoas reagem como se isto fosse muito baixo. Parece que esqueceram que a inflação corrói o poder aquisitivo do dinheiro e, por consequência disto, o poder aquisitivo dos salários. Nossos políticos não se preocupam com isto.

Quando se anuncia que temos cerca de 12 milhões de pessoas desempregadas, sem falar naqueles que estão no desalento e os que estão desempregados por trabalho precário, não vemos manifestações vigorosas de nossos políticos, afinal de contas quem fica desempregado são os trabalhadores pobres e dependentes das políticas públicas.

Quando se anuncia que a dívida líquida do setor público irá atingir o equivalente a 60% do PIB também não vemos e nem sentimos a preocupação de nossos políticos, afinal de contas quem irá pagar esta dívida são os trabalhadores e os empresários com o aumento dos impostos e das taxas de juros.

Seria muito gratificante presenciar a discussão destas questões econômicas conjunturais e estruturais ocorrendo em audiências públicas nas assembleias legislativas e câmaras de vereadores pelo Brasil afora. Mas o que vemos é o dispêndio de energia política local e de recursos públicos para a discussão de questões periféricas que muito pouco irão alterar a vida dos cidadãos brasileiros. Seria muito exigir isto de nossos agentes políticos?

Para a prática deles se aplica a máxima de não se preocupar com os outros, somente com eles mesmos. O economista e filósofo austríaco Friedrich August von Hayek, usou a citação “après moi, le déluge” em sua obra “Desemprego e Política Monetária” para tipificar as atitudes dos políticos ao se preocuparem somente com as próximas eleições. Esta frase significa “depois de mim, o dilúvio” e é atribuída, inicialmente, ao rei Luis XV quando a monarquia francesa estava próxima de seu fim.

E é esta a sensação que temos, no mesmo contexto que Hayek a apresentou. Parece que nossos políticos estão sempre preocupados com as próximas eleições e suas ações se limitam a isto, não se preocupando com as questões nevrálgicas que podem consumir nossa sociedade como um dilúvio.

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