domingo, 19 de abril de 2020

Correndo atrás

Os efeitos da crise econômica causada pelo coronavírus serão devastadores na economia mundial. No Brasil não será diferente, porém há a necessidade de as autoridades econômicas tomarem medidas para amenizar estes efeitos sobre a população com maior vulnerabilidade social.

Muitas pessoas tentam relativizar os efeitos da crise e outros, inclusive o presidente Bolsonaro, afirmam que a queda na atividade econômica e o fechamento de pequenas empresas serão causadas pela estratégia de isolamento social como combate à propagação do vírus. O discurso do presidente vem no sentido de criticar o isolamento e distanciamento social como medida de prevenção, uma vez que, com esta estratégia, muitas atividades econômicas são prejudicadas.

Pois bem, não tem uma fórmula pronta para o enfrentamento de crises econômicas. Mesmo para uma crise global, os efeitos locais dependerão muito dos fundamentos de cada economia, ou seja, de como que as autoridades econômicas administravam os seus agregados econômicos. Por conta disto, os efeitos são de difícil previsão. O que é certo é que a atividade econômica irá cair causando um aumento do desemprego e o fechamento de muitas empresas.

É fato que os efeitos desta nova crise na economia brasileira serão maiores do que os das anteriores, há quem afirme que os efeitos serão os piores dos últimos 120 anos. Tudo vai depender das “respostas” do setor público para o enfrentamento da crise econômica. Em nível federal a maior desconfiança fica sobre as ações da equipe econômica de aceitar a implementação de políticas e ações divergentes dos princípios liberais, que é o dominante na equipe.

Se o governo seguir uma cartilha liberal no sentido estrito poderemos ter um agravamento da crise na sua dimensão social. Nosso país possui uma grande desigualdade social o que significa que há um grande contingente de pobres e miseráveis que precisam de auxílio nos momentos difíceis. Muitas famílias já estão passando fome e as ações entre amigos, de entidades de apoio e assistência social e mesmo as prefeituras buscam amenizar a situação com a distribuição de cestas básicas.

Porém a demora dos governos em tomar medidas econômicas como forma de amenizar a crise econômica pode agravar este cenário. Digo demora porque o que foi feito até o momento ainda se apresenta como pouco diante do quadro que está se desenhando para o futuro próximo. Não há a negação de que o governo já esteja agindo. Só há uma análise de que é preciso muito mais.

O setor público terá que ter um papel maior na economia para combater a crise e isto é conflitante com os princípios liberais da equipe econômica. Isto significa que o governo terá que dispender de mais recursos, o que aumentará o rombo nas contas públicas. Muitas coisas podem ser feitas pelo setor público para amenizar os efeitos da crise econômica, porém todas elas têm os seus custos.

É certo que a meta de resultado primário, que já era de déficit, não será cumprida. Com certeza o déficit será o quádruplo ou o quíntuplo do inicialmente projetado. O coronavírus já causou um desequilíbrio maior nas contas públicas e ainda terá mais efeitos negativos. Isto nas economias que se disporem a proteger os seus cidadãos, principalmente aqueles que se encontram em risco social.

O governo brasileiro está agindo, mas é preciso muito mais. O desajuste social que restará trará efeitos que serão sentidos por anos com o maior empobrecimento da população, que poderá causar vulnerabilidade por doenças que antes já estavam erradicadas de algumas comunidades, e diminuirá a capacidade produtiva da economia. O momento de agir é agora. O governo não pode demorar mais.

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