quarta-feira, 7 de abril de 2021

Estamos todos vacinados?

Existem duas áreas de pesquisa em economia que estão se destacando no mundo: a economia do crime e a economia da corrupção. A primeira, embora tenha o seu conceito essencialmente jurídico, tem os seus impactos econômicos que podem ser considerados tanto como sendo as causas quanto as consequências da variação nas taxas de criminalidade.

A discussão da influência do crime na sociedade e sua relação econômica pode ser presenciada nas obras dos filósofos Platão e Aristóteles passando por São Tomás de Aquino. Em todas estas abordagens, de forma direta ou indireta, se relaciona o aumento da criminalidade com o aumento da miséria do povo. Creio que boa parte da população possui esta percepção, também. A realidade é que a medida em que as taxas de criminalidade aumentam, há a necessidade de que o estado direcione mais recursos orçamentárias para os setores de segurança pública para prevenir, investigar e punir os criminosos.

Estas despesas são concorrentes com outras também necessárias e, considerando a existência de restrição orçamentária do governo, quando se aumentam recursos para uma determinada área necessariamente se reduz a de outra ou das outras.

Já a corrupção é considerada outro problema grave que contribui para a falta de recursos para as políticas públicas prioritárias. No caso brasileiro há estudos que estimam que o custo da corrupção no país varia entre 1% a 4% do PIB. Estes estudos datam de mais de dez anos, mas a percepção não é de que a corrupção tenha reduzido no Brasil. Seria muita inocência acreditar que a corrupção tenha reduzido por aqui.

De acordo com a ONG Transparência Internacional, que divulgou o Índice de Percepção da Corrupção de 2020, o Brasil tem se mantido estagnado em patamar ruim no ranking do estudo. Nele, de 180 países listados o Brasil ocupa a 94ª posição com 38 pontos, numa escala de zero a 100. Em 2012 estávamos com 43 pontos, portanto pioramos. A Dinamarca ocupa a melhor posição, com 88 pontos, juntamente com a Nova Zelândia, seguidas por Finlândia, Singapura e Suécia, com 85 pontos.

Se as estimativas dos custos da corrupção estiverem corretas e se mantiveram ao longo dos últimos dez anos, este custo pode variar entre R$ 74,4 bi e R$ 298,0 bi. É muito dinheiro que nossa sociedade está deixando de aplicar nas áreas prioritárias na busca de melhoria da qualidade de vida da população. Para se ter uma ideia do valor o estado do Paraná teve um total de receita corrente no ano de 2020 de R$ 58,2 bi.

Nestas duas áreas de estudo, o crime e a corrupção, a sociedade, através de seus agentes políticos, deveria dar respostas eficientes de combate. Entretanto, o que vemos é a inércia ou a demora em se encontrar as soluções necessárias. Com isto, há uma ausência de dispositivos de controle que impeçam estes eventos. Se combatermos a corrupção teremos mais recursos para as políticas públicas. Com mais políticas públicas se reduz a miséria e, consequentemente, se reduz as taxas de criminalidade.

Os dispositivos de controle interno e externo não estão dando conta de arrefecer a corrupção em nosso país. A esperança fica com o controle social. Porém, para que este seja efetivo e eficiente a população deve participar. Mas o que vemos é um desalento ou acomodação de muitas pessoas quando se discute temas de corrupção. As pessoas não querem se envolver ou demonstram não se incomodar. Até parece que estamos todos vacinados contra a corrupção e que ela não afeta nossas vidas. Não é assim. Mais do que nunca precisamos combater a corrupção em nosso país.


Um comentário:

  1. Esse discurso "anti corrupção" que foi implantado na mente dos trabalhadores levou o Brasil para um poço sem fundo. Discurso que trouxe intenções obscuras com a finalidade da elite conservadora se perpetuar no poder. Hoje, essa msm elite conservadora se deleita da corrupção q se dizia contra. As pautas "básicas" da classe trabalhadoras são e devem ser as pautas da garantia da subsistência. Da garantia da dignidade humana. Politicas públicas de Saúde,educação, moradia e geração de empregos.

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