quarta-feira, 19 de maio de 2021

Era uma vez a poupança

Os brasileiros possuem uma afinidade histórica em aplicar na caderneta de poupança. Durante anos esta modalidade de aplicação financeira foi considerada a melhor alternativa para se manter os fundos pessoais. Mas muitas coisas mudaram na rentabilidade dela e há muito tempo deixou de ser uma opção para proteger os ativos monetários dos efeitos da inflação e, muito menos, para se ter rentabilidade.

Até maio de 2012 a poupança possuía como regra de rentabilidade a alíquota de 0,5% acrescida da Taxa Referencial (TR). Em que pese que a TR quase sempre tenha ficado abaixo da inflação efetiva, a rentabilidade da poupança se mantinha um pouco atraente por conta da alíquota mensal de 0,5%.

O governo mudou a regra, porém manteve a versão antiga para os depósitos anteriores a data da mudança (03/05/2012). Para as novas contas ou novos depósitos a regra passou a ser vinculada à taxa de juros básica da economia, a Selic, da seguinte forma: se a Selic estiver acima de 8,5% ao ano o rendimento da poupança será de 0,5% mais a TR; se a Selic estiver abaixo ou igual a 8,5% o rendimento será de 70% da Selic mais a TR.

Pois bem, a Selic está abaixo de 8,5% desde setembro de 2017 e não há perspectivas para ela atingir este nível nos próximos quatro anos. Se não bastasse isto a TR está zerada desde a mesma data e se voltar a ser positiva continuará tendo um coeficiente inferior ao da inflação efetiva. Esta combinação sacramenta a poupança como um dos piores investimentos no mercado financeiro.

Mas isto parece não afastar os poupadores mais tradicionais e conservadores, uma vez que atualmente o saldo médio de depósitos em contas de poupança é de R$ 1 trilhão. O que podemos concluir é que a caderneta de poupança se tornou uma alternativa para se manter a guarda do dinheiro, mas é interessante somente para pessoas que tenham a intenção de efetuar saques para realizar despesas no curtíssimo prazo.

No ano de 2020 a captação líquida média diária de depósitos de poupança foi de R$ 662,6 milhões, ou seja, foram feitos valores de depósitos que superaram os saques. Em 2021 esta média passou a ser inversa: até 11/05 a média diária de saques superou os depósitos em R$ 237,9 milhões. Este pode ser um indicador de que as pessoas estão necessitando sacar os seus fundos por conta do prolongamento da pandemia e da crise econômica por ela gerada. Outra possibilidade é de que os investidores tradicionais da caderneta de poupança estão compreendendo que se mantiverem os seus fundos nesta aplicação não estarão se protegendo dos efeitos da inflação.

Se as expectativas acerca da Selic se confirmarem teremos uma taxa, no final de 2021, de 5,5%. Com isto a rentabilidade da poupança se manterá em 70% da Selic e, se a TR continuar zerada, um investidor que depositou R$ 100,00 no início de janeiro terá um saldo em 31/12 de, aproximadamente, R$ 102,80. Terá tido uma rentabilidade de 2,8%.

Porém, se a inflação projetada fechar o ano dentro da atual expectativa mediana de 5,15% o rendimento da poupança se anulará pelo efeito da inflação e será como se o investidor que depositou os R$ 100,00 no início de janeiro deverá ter um saldo de R$ 97,48, em termos reais, no final do ano.

Trocando em miúdos, a aplicação em caderneta de poupança, ou mesmo as contas correntes integradas com a poupança não são bons negócios para quem deseja proteger suas economias dos efeitos da inflação. Para quem deseja esta proteção o ideal é procurar outra modalidade de investimento financeiro. A caderneta de poupança já não é mais a mesma.



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