quarta-feira, 31 de maio de 2023

Propor e não criticar

Recentemente, presenciei, em um grupo de mensagens instantâneas, alguém compartilhando uma notícia sobre o aumento da evasão escolar em 99% na região. Em seguida, outra pessoa atribuiu esse aumento da evasão à plataformização e ao Novo Ensino Médio (NEM). Não concordo que essa evasão tenha apenas essas duas causas. A evasão sempre existiu e, ocasionalmente, podem ocorrer eventos que a diminuem, assim como eventos que a exacerbam.

A plataformização da educação consiste na integração de tecnologias e plataformas digitais na área educacional e pode trazer vantagens e desafios. Entre as vantagens, podemos destacar o acesso ampliado a recursos educacionais, a flexibilidade de horários e locais de estudo, a personalização do aprendizado e a disponibilização de recursos interativos. Por outro lado, os desafios incluem desigualdades digitais, dependência excessiva da tecnologia, garantia da qualidade dos conteúdos e a necessidade de formação adequada dos professores.

Já o NEM é uma reforma recente que busca modernizar a educação no país. Muitas pessoas agiram (e continuam agindo) de forma ideologizada nas análises e desqualificaram (e desqualificam) a reforma. Embora possa ter faltado um debate mais amplo sobre as propostas durante sua implantação, isso não significa que todas as mudanças sejam negativas. Criticar e pedir sua revogação não pode ser feito da mesma forma que na implantação; é necessário um debate com avaliação aprofundada, livre de paixões e ideologias.

O NEM introduz a flexibilidade curricular, o que não é ruim. Essa abordagem metodológica deveria ser adotada também no ensino superior. Países como Finlândia, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e Suécia utilizam um modelo de ensino flexível, o qual se tornou uma tendência global. Ao permitir que os alunos escolham itinerários formativos alinhados com seus interesses e aptidões, busca-se despertar um maior engajamento e motivação para a aprendizagem.

É claro que nem tudo são flores e a falta de infraestrutura adequada e o baixo investimento na educação prejudicam a oferta de itinerários formativos nas escolas. A sobrecarga dos professores também é um fator preocupante. É necessário que o setor público assuma efetivamente a responsabilidade de qualificar os docentes e ampliar seu número, com devida valorização.

Afirmar que o Novo Ensino Médio é uma das causas da evasão não está correto sem um estudo preliminar. Essa afirmação só pode ser feita após a realização de uma pesquisa científica aprofundada, mas isso só terá relevância a longo prazo. A implantação do NEM é recente demais. O que podemos esperar, na verdade, é o oposto: acreditar que o NEM tenha potencial para reduzir a evasão escolar, mesmo considerando os desafios existentes.

Trata-se de uma tentativa importante de modernizar o sistema educacional e sua desconstrução não pode ser feita sem um debate científico, não ideológico. Se implementado adequadamente, com infraestrutura e recursos suficientes, o Novo Ensino Médio pode contribuir para a redução da evasão escolar, despertando o interesse e a motivação dos alunos, valorizando suas habilidades e proporcionando uma educação mais conectada com a realidade.

Precisamos de um ensino que desenvolva habilidades e competências. No contexto do ensino médio, também é importante preparar os jovens para o ensino superior, assim como fornecer qualificação para o mercado de trabalho. Não podemos negligenciar isso. Todas essas alternativas devem ser conciliadas. Não é o caso de criticar, mas de propor soluções.


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