As pessoas costumam assumir
posições incoerentes e antagônicas entre si. Grupos de pessoas cotidianamente
se organizam para defender doutrinas das mais diversas. As defesas ocorrem de
forma apaixonada e, na maioria das vezes, intransigente e geram conflitos entre
os grupos.
Tais equipes, quando possuem
forte doutrinação, se posicionam como exércitos de soldados em defesa de suas
causas e, na maioria das vezes, chegam até a serem violentos.
Atualmente podemos
identificar embates que representam tais antagonismos ideológicos que redundam
nas finanças públicas. A união, os estados e os municípios estão operando no
limite do equilíbrio entre receitas e despesas, sendo que muitos já apresentam
déficit e colocam em risco atividades essenciais como saúde, segurança e
educação. No caso do governo federal o déficit é tão agudo que está causando
danos enormes à nossa economia e todos nós estamos sofrendo as consequências.
O governo federal saiu com
uma proposta corajosa e polêmica, a de limitar os gastos com saúde e educação
ao valor utilizado no ano anterior acrescido da inflação do período e não mais
pela receita. Acontece que a Constituição Federal estabelece que os gastos com estas áreas são vinculados à receita do
ano corrente e com a proposta os valores serão “congelados” em termos reais.
Ilustrando o assunto temos que se a receita aumentasse 10% os gastos destas
áreas também aumentariam na mesma proporção, independente da inflação do
período. Agora, após aprovada a proposta, se a receita aumentar os mesmos 10% e
a inflação for de 5% os gastos serão limitados a mais 5%.
Está armada a confusão: os
apoiadores do governo já estão convocados para defender a proposta visando
equilibrar as finanças públicas e colocar a economia no rumo da retomada do
crescimento. Já os opositores, sindicatos, associações e outros grupos que
defendem o aumento dos gastos com saúde e educação também já estão convocando
seus “exércitos” para contra-atacar o governo.
Difícil prever quem sairá vitorioso desta
batalha, mas algumas considerações devem ser feitas sobre o assunto. O governo
não está errado em querer reverter o déficit nas contas públicas, pois sem equilíbrio fiscal dificilmente
retomaremos o crescimento econômico e, com isto, promovendo a redução do
desemprego e o aumento da renda real do trabalhador. Mas, infelizmente soluções
desta natureza são difíceis e passam pelo sacrifício da sociedade como um todo,
pois os gastos em áreas sociais serão reduzidos.
Por outro lado, os
contrários à proposta alegam que o governo já aplica poucos recursos nas áreas
sociais e que na saúde e educação deveriam liberar mais recursos. Entretanto
temos que destacar que antes de aumentar os gastos o que este grupo deveria propor
é a melhoria da qualidade do gasto público, o que implica em aumentar a
produtividade do setor público, tema que é tratado como blasfêmia pelos
defensores das ideias mortas. Não se trata de seguir uma linha produtivista,
mas impor mais qualidade na produção do setor público através de economias de
escala e de escopo.
Os dois lados estão
certos, mas a decisão a ser tomada não acomodará os intentos dos dois exércitos
e, com certeza, as “baixas” mais graves ocorrerão dentre os soldados mais
fragilizados, os cidadãos comuns. São estes que irão derreter na fogueira da
irresponsabilidade dos formuladores de políticas públicas.
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