domingo, 7 de abril de 2019

O pé de goiaba



Nosso país continua polarizado, dividido, com pessoas dando mostras de intolerância e de atitudes extremistas. E não são somente pessoas que disputam cargos e mandos políticos. Desta vez a polarização radical se estendeu para o eleitorado comum e muitos deles atuam como verdadeiros “vigilantes” na defesa das posições políticas de seus ídolos e heróis.

O simples fato de se tentar fazer uma análise da conjuntura política, econômica e social já é motivo para ser criticado e rotulado de esquerdista ou de ser oposição ao atual governo.

A análise de conjuntura nada mais é do que um processo de investigação interdisciplinar que busca apresentar como está a situação real e atual dos fatos ocorridos em determinada área, local e período. O maior desafio de uma análise de conjuntura é compreender e apresentar como ocorrem as inter-relações das partes que formam o todo. De acordo com o professor José Eustáquio Diniz Alves, “a análise de conjuntura funciona como um mapa que nos permite viajar na realidade”.

Temos que entender que a realidade é multifacetada e que ela muda quando a analisamos em perspectivas diferentes. Falar que o governo Bolsonaro é composto por uma maioria neófita é a mais pura verdade. Segundo o próprio Bolsonaro, ele não nasceu para ser Presidente, mas se candidatou e agora é, portanto deve se preocupar em cumprir a “liturgia do cargo” e apresentar soluções para os problemas que enfrentamos.

Efetuando uma análise próxima da realidade dos fatos o governo Bolsonaro ainda não mostrou a que veio. Afirmar isto não significa que seja uma oposição, nem que a pessoa seja destra ou canhota. É, simplesmente, opinar que o novo governo, embora possa ter tomado algumas decisões interessantes, ainda não apresentou a que veio com relação aos temas econômicos e sociais.

Neste ponto me refiro a medidas que possam reverter rapidamente o déficit fiscal, que permita a retomada do crescimento econômico, a redução do desemprego e a queda da inflação. Afirmar que nada foi feito e que ainda não temos um “norte” nada mais é do que apresentar uma constatação real do que está acontecendo.

Nosso país está sob a égide do teto dos gastos e este poderá ser descumprido já em 2020 caso não ocorram mudanças no perfil de gastos do governo federal. Entretanto a Câmara dos Deputados aprovou Proposta de Emenda à Constituição (PEC) e a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou emenda à proposta que, no seu escopo, engessa, ainda mais, as contas do governo. Isto irá fazer o teto dos gastos explodir e tornar o Presidente alvo de crime de responsabilidade.

E quais as ações e propostas que o governo federal implantou ou tem para reverter o déficit fiscal, retomar o crescimento, gerar empregos e conter a inflação? Até agora somente a reforma da Previdência, que o governo não a defender de forma coordenada.

Não adianta os bolsonaristas afirmarem que o Presidente assumiu somente há três meses e que temos que “dar um tempo” para que as coisas aconteçam. Ele foi eleito Presidente em outubro do ano passado e, pelo fato de ter se candidatado, deveria ter um projeto para nosso país. Não podemos nos contentar com respostas simplistas e fugazes de que “ainda não deu tempo”, pois tempo é uma coisa que está cara para os brasileiros que estão, há anos, sofrendo as consequências de governos irresponsáveis.

Fazer análise de conjuntura é isto, apresentar uma visão objetiva da nossa realidade em determinada área. E se não pudermos fazer isto para provocar o debate restará discutir temas relacionados ao pé de goiaba, ou seja, discutir coisas sem sentido prático.

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