quarta-feira, 1 de setembro de 2021

O papel das expectativas

Não é de hoje que os analistas econômicos se preocupam com as expectativas econômicas. A importância é tamanha que toda semana o Banco Central divulga resumo das projeções para os agregados econômicos elaborados pelas equipes de conjuntura econômica de bancos, gestoras de recursos, empresas não-financeiras, consultorias, associações de classe, academia etc. 

Estas projeções são elaboradas para orientar os investidores em seus posicionamentos no mercado, mas também ajudam os micros, pequenos e médios empresários, que não possuem tal estrutura em suas empresas e constitui ferramenta importante para o planejamento de suas ações de curto, médio e longo prazos. Já pelo lado do Banco Central as expectativas do mercado subsidiam a tomada de decisões na implementação de política monetária.

O Relatório de Mercado divulgado pela Banco Central traz as medianas das expectativas da inflação, PIB, câmbio, juros, produção industrial, balança comercial e conta fiscais do governo. Isto faz com que não só o governo e grandes investidores possuam simetria de informações básicas para tomada de decisões, mas também as pequenas empresas e a população em geral.

Porém, parece que nos últimos meses o governo federal não tem dada a devida importância às expectativas divulgadas e, muito menos, para as estatísticas econômicas oficiais. Isto é preocupante porque não temos a sinalização das medidas que serão tomadas para conter a deterioração de alguns indicadores. A inflação está praticamente fora de controle e já atingiu 9% nos últimos 12 meses e deve fechar o ano acumulando um aumento nos índices de preços superior a 7%. Isto pelo IPCA, pois o IGP-M deve chegar próximo dos 20%.

A projeção da inflação preocupa a todos, e tal preocupação é agravada quando percebemos que o governo federal não está se preocupando. Tanto que o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou não estar preocupado. Só que a população brasileira deve e está preocupada com a inflação. Se já não bastasse o alto nível de desemprego de nossa economia, que derruba a massa salarial existente e, consequente, a renda nominal, temos uma redução do poder aquisito desta renda, ou seja, a renda real também cai.

Isto reflete no baixo consumo das famílias e no baixo faturamento das empresas. Uma coisa leva a outra. Mas a preocupação do governo está em fazer populismo fiscal, ou seja, efetuar gastos públicos que elevem a aprovação e aceitação do governo neste período de baixa popularidade do presidente Bolsonaro e que antecede um novo processo eleitoral na qual ele deve buscar a reeleição.

É claro que o governo tem que se preocupar com as políticas de renda básica de cidadania, mas também tem que se preocupar com o equilíbrio nas contas públicas. Temos uma expectativa de um crescimento pífio, muito aquém do necessário e do possível. Olhando as expectativas da meta da taxa Selic podemos ter a certeza de que teremos entrada de fluxos de capitais, o que é necessário para o financiamento da atividade econômica.

Porém, olhando as expectativas do câmbio temos que ele deve se manter acima dos R$ 5 nos próximos anos, se nada de efetivo for feito por parte do governo. Com efeito, teremos um cenário de moeda desvalorizada, economia monetizada e juros e preços elevados contrastando com uma expectativa perversa de aumento da pobreza e da miséria em nosso país. Resta torcer para depois que passar a eleição possamos ter uma politica econômica que se preocupe efetivamente com a população brasileira e não somente com um pequeno grupo de pessoas.


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