quarta-feira, 7 de setembro de 2022

O papagaio e o homem

Há muito tempo acompanho os debates acerca do desenvolvimento socioeconômico em nossa região. Houve um momento em que estes debates eram cíclicos, ou seja, (res)surgiam de tempos em tempos, como os processos eleitorais. Ele se fixou, de certa forma, quando atores da sociedade civil organizada passaram a capitaneá-los.

Nesta perspectiva é importante a união de todos os atores e, em especial, as universidades que podem auxiliar na produção de estudos, levantamentos e pesquisas em sintonia com as demandas de desenvolvimento da região. A primeira questão a ser definida é: qual é a região? Não podemos discutir potencialidades, fragilidades, ameaças e estratégias para a melhoria da qualidade de vida de uma região se não definimos qual é a região.

Também há de se começar a consolidar uma base de dados regionais para subsidiar estratégias e políticas públicas e privadas. E neste ponto em especial a academia, fomentada pelas administrações públicas municipais, podem e devem “puxar” a responsabilidade para si e promover esta consolidação.

A região objeto do projeto de desenvolvimento deve ter bem definido quais são os municípios que a compõem e seus respectivos estágios de desenvolvimento, bem como os principais indicadores e as possíveis estratégias para uma política convergente para a melhoria da qualidade de vida das pessoas. O que produzimos? Quais são as nossas forças endógenas? Quais são os nossos benchmarks?

Sequer temos um levantamento dos movimentos pendulares existentes nos municípios de nossa região (qual região?). Movimentos pendulares são os efeitos de deslocamentos casa-trabalho e casa-escola entre municípios e regiões, o que podem gerar externalidades (positivas e/ou negativas) para os municípios envolvidos.

Pessoas que se deslocam para estudar ou trabalhar em outros municípios tendem a efetuar parte de seus gastos fora de seu domicílio. E os municípios que recebem os fluxos pendulares “perdem” parte da renda gerada pelos salários, pois a outra parte é aplicada no domicílio.

A experiência do debate sobre o desenvolvimento regional já é longa, porém deve ser mais objetiva e prática. Onde isto ocorreu os indicadores de qualidade de vida melhoraram. Basta acompanhar as experiências gaúchas e catarinenses.

Temos potencialidades naturais fantásticas em nossa região: uma produção agrícola diversificada, instituições de ensino de referência, um setor industrial forte e um setor de serviços com grande volume de atividade, basta unir as forças e objetivos para traçar uma estratégia de desenvolvimento regional com uma governança bem estruturada e democrática. A exemplo do que sempre ocorreu. Estas ações não podem descontinuar para evitar comportamentos oportunistas por parte de agentes políticos que aparecem no debate em ciclos de quatro em quatro anos.

As perguntas apresentadas não são retóricas e as respostas devem ser objeto de profundas reflexões. O termo que temos que fixar em nossas atitudes é “objetivar”. Temos que definir, de forma clara os objetivos a serem alcançados, mapear as informações disponíveis e traçar as estratégias para lograr o êxito. Pode até parecer fácil, mas não é se não objetivarmos. Ficar na falácia não nos leva aos resultados pretendidos. Se é que sabemos quais são.

A semelhança entre os papagaios e os seres humanos é que ambos possuem o mesmo equipamento para falar que os humanos. Porém os humanos podem refletir e agir de forma proativa, além de se organizarem em grupos sociais. Estas diferenças é que geram o nosso desenvolvimento. Então, mãos à obra.


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