quarta-feira, 22 de março de 2023

O fim da discórdia

Estamos assistindo mais um episódio da longa batalha que está sendo travada entre o presidente Lula, seus asseclas e o presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto. O motivo da batalha é a taxa de juro, que é considerada como alta para os governistas (e é), o que trava o crescimento da economia de forma geral.

Um dos eventos provocados pela desaceleração da economia por conta do juro alto é a queda nas vendas de veículos que levou as montadoras adotarem férias coletivas para os funcionários em diversas plantas industriais. Mas o presidente do Banco Central também está correto ao manter o juro em nível mais elevados pelo fato de que a pressão de alta da inflação é combatida com aumento do juro.

Pode parecer um pouco confuso, mas é claro que os argumentos de ambos os lados devem ser refletidos com muita atenção e responsabilidade. Não podemos assumir a defesa de uma posição extrema pela paixão política. Muitas pessoas defendem a posição dos governistas porque acreditam cegamente que irão promover uma onda de crescimento com uma política fiscal expansiva e com o fomento do crédito para as famílias. Também há muitas pessoas que acreditam cegamente na posição do presidente da autoridade monetária por enxergarem nele um representante do bolsonarismo.

O governo Lula 3 (o atual) não irá repetir o desempenho do governo Lula 1 (2003 a 2006). A conjuntura era outra e o mundo estava em expansão produtiva com crescimento econômico significativo na maioria dos países. Atualmente estamos num período de expectativa de desaceleração da atividade econômica mundial e há uma tendência de os juros subirem nas principais economias, justamente para combater a inflação. As ações de aumento de gastos do governo poderão ajudar a conter a intensidade da desaceleração de nossa economia, mas não cresceremos mais por conta disto.

Há também o risco fiscal com o aumento do déficit e do endividamento público. Neste ano a expectativa é que a dívida pública líquida em relação ao PIB caia um pouco, mas nos próximos três anos a expectativa é de alta. Da mesma forma o resultado primário, que havia um compromisso do governo de apresentar superávit já em 2024 está com uma projeção de déficit até o ano de 2027. Portanto, as justificativas do governo para reduzir o juro não são tão fortes assim.

Pelo lado do presidente do Banco Central há a justificativa de combate à inflação com o destaque para a necessidade de trazer a inflação para dentro do intervalo da meta no próximo ano, pois neste não conseguirão. As expectativas para a inflação estão de alta até o ano de 2027. Por conta disto é que o Banco Central justifica o juro alto. Mas o que eles não explicam é que na nossa inflação temos uma parte que é de demanda, onde o juro alto ajuda a combater, e outra parte é de custos, que o juro provoca um efeito de aumento da inflação.

Nesta semana o Comitê de Política Monetária (Copom) irá decidir sobre a taxa de juro básica da economia, alvo da discórdia apresentada, e a expectativa de muitos analistas de mercado é de que a taxa será mantida no mesmo nível que se encontra, o que irá acirrar ainda mais o embate e colocará o presidente do Banco Central numa condição ainda mais vulnerável.

Não há uma solução fácil para o impasse, mas o que já é fácil de concluir pelas informações apresentadas é que é possível, sim, que o juro seja reduzido um pouco sem perder a inflação do foco. Não da forma que o presidente Lula e seus asseclas querem, mas também não dá para bater o pé e deixar do jeito que está.


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