quarta-feira, 6 de abril de 2022

Nada de novo

A inflação voltou a entrar no radar dos brasileiros. Quem vivenciou os anos de 1970 até meados dos anos 1990 entende bem o mal que o aumento generalizado e desenfreado nos preços pode causar na vida das pessoas, nas empresas e para os governos. Processos inflacionários elevados geram problemas diversos e o primeiro é a incapacidade de os agentes econômicos conseguirem prever os seus níveis para a implementação de políticas ou medidas econômicas visando amenizar os seus efeitos.

Estes efeitos são dos mais diversos e agem sobre a distribuição de renda, balanço de pagamento e expectativas empresariais, dentre outros. Mas, efetivamente, o maior dano é sobre a população mais pobre que, quando empregada, acompanha seus salários perderem poder aquisitivo real sem poderem reagir contra isto e ficando na dependência das ações de nossos agentes políticos.

Quando os agentes políticos se preocupam com as pessoas, vá lá. Mas quando se preocupam somente com as próximas eleições e com suas respectivas avaliações a população mais vulnerável sofre as consequências danosas destes comportamentos. E o pior é que muitas pessoas acabam acreditando que o governo não pode fazer muita coisa para amenizar a situação. Podem e devem.

Pois bem, o governo até está tentando fazer algumas coisas, porém não se vê nada muito efetivo neste combate. Aumentar juros e criar auxílios financeiros não resolvem o problema da inflação. Amenizam temporariamente. Isto sem falar que nossa inflação é tratada como sendo essencialmente de demanda. Porém, temos componentes da inflação que são de custos. Até corremos o risco de começarmos a ter inflação inercial, como nos anos 1980, onde os preços eram reajustados com base na inflação passada.

O aumento dos juros ajuda no combate da parte de demanda da nossa inflação e atrai investimento estrangeiro que provoca a redução da taxa de câmbio, uma das causas dos aumentos dos custos de produção, porém é preciso fazer algo mais efetivo.

Uma rápida análise das expectativas de inflação para este e para o próximo ano é suficiente para preocupar o mais otimista dos analistas. A inflação de 2022 é estimada, no seu valor mínimo, em 5,9%. Acima da meta, que é de 3,5% e acima do teto da meta, que é de 5%. Na mediana das expectativas a inflação esperada é de 7,1% e para os mais pessimistas ela deve chegar a 9%.

Para aqueles que vivem em casa de aluguel as expectativas também não são boas. Estima-se que o IGP-M para este ano fique em 11% na mediana e em 18% para os analistas mais pessimistas. Já a alimentação no domicílio deve subir 8,8% na mediana, podendo atingir um máximo de 16,8%. E para 2023 já há a expectativa de que os preços dos alimentos no domicílio aumentem até 11,9%.

Os problemas econômicos são muitos e cada um deles deve ser debatido e tratado com responsabilidade. Entretanto, em ano eleitoral as ações e debates perdem o foco das prioridades da sociedade e miram somente nos interesses eleitoreiros. Infelizmente. Com efeito, entraremos em um novo modelo de ciclo político eleitoral oportunista que se aproveitará da miopia dos eleitores que, por sua vez, se valerão do voto retrospectivo limitado ao apresentado neste ano.

Provavelmente manteremos o atual cenário político. Resta a esperança de que se comece logo a implementação de políticas econômicas para abrandar o quadro de deterioração econômica e social que estamos vivenciando, mas certos de que isto somente irá ocorrer a partir de 2023. Isto porque em 2022 nada de novo surgirá. Em matéria econômica, 2022 está como Inês, morto.


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