quarta-feira, 13 de abril de 2022

Sem piloto

Todos os brasileiros deveriam estar surpresos com a declaração do presidente do Banco Central do Brasil (BCB) em que ele afirma que a instituição foi “surpreendida” com o índice de inflação do mês de março deste ano. Oras bolas, o BCB possui como uma das suas funções o combate à inflação, o que implica que devem acompanhar a conjuntura econômica interna e externa com a devida diligência. De forma geral e funcional, somente o BCB não poderia ficar surpreso com a inflação.

É claro que a inflação é um fenômeno mundial. Todos os países estão sofrendo com a inflação, primeiro pelo excesso de demanda e depois pelo conflito entre Rússia e Ucrânia. Os preços foram pressionados para cima e, no caso particular do Brasil, os movimentos de alta foram potencializados pela desvalorização de nossa moeda. Nem o presidente do BCB e nem o presidente da República podem tergiversar sobre o assunto. É competência e responsabilidade deles conhecer as reais causas da inflação e estabelecer o combate visando preservar nossa economia e, principalmente, tentando evitar danos para as camadas mais vulneráveis de nossa sociedade.

Mas na prática não é isto que está acontecendo. O presidente da República não está preocupado e alega que ele não pode fazer nada porque o mundo todo está tendo inflação. O presidente do BCB é a pessoa que deve ter todas as informações primárias acerca dos movimentos dos preços e não pode se dizer surpreendido com os índices efetivos. Enquanto as autoridades usam de discursos evasivos a população sofre com o aumento dos preços e com a corrosão de seus salários.

A inflação que “surpreendeu” o Banco Central foi de 1,62% no mês de março deste ano, a maior para o mês desde o ano de 1994. No mês de fevereiro deste ano tivemos uma inflação de 1,01%, a maior para o mês desde o ano de 2015. Quem não possui o aparato informativo, técnico e político que o Banco Central possui sabe que a inflação está totalmente fora de controle e que as medidas que estão sendo tomadas estão se mostrando ineficientes para abrandar o aumento do custo de vida para os brasileiros.

Se considerarmos que a meta para a inflação deste ano é de 3,5% com desvio padrão de 1,5 ponto percentual, o teto da meta fica em 5%. Só que nos três primeiros meses do ano já temos uma inflação acumulada de 3,2% no índice geral para o país e de 4,2% para a região metropolitana de Curitiba, que podemos ter como referência para nossa região. E a Cesta Básica de Apucarana, medida pelo Núcleo de Conjuntura Econômica e Estudos Regionais (NUCER) da Universidade Estadual do Paraná (Unespar), acumulou uma alta de 31,28% nos últimos 12 meses.

Este será mais um ano de arrocho para as classes média e baixa de nossa sociedade. Os preços continuarão subindo e a renda destes extratos sociais não acompanharão, o que implicará em redução do rendimento média real habitual das pessoas ocupadas, que se encontra nos mesmos níveis do início do ano de 2012.

De momento o que vemos são ações de políticas econômicas para tentar disfarçar o cenário atual, criar retóricas evasivas, não assunção de responsabilidades e a criação de dispositivos para criar uma sensação artificial e temporária de bem estar. Sensação esta que tem como vida útil desejada pelos nossos agentes políticos as eleições deste ano.

Para as questões realmente necessárias estamos sem piloto. Resta saber como nossa nave Brasil será conduzida após as eleições deste ano. O estrago social já é muito grande e o custo da recuperação será elevado e dependerá dos acertos da política econômica.


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