quarta-feira, 14 de setembro de 2022

O que nos afeta

O imediatismo é um comportamento comum no indivíduo humano. A amnésia de memória curta, também. Assim o é nossa memória política. Muitos têm uma paixão por políticos e passam a tê-los como notáveis solucionadores de problemas econômicos e sociais. Na verdade, estes últimos não fazem nada mais do que a obrigação para que foram eleitos, quando realmente executam seus respectivos trabalhos.

Se avaliarmos o que nos afeta no curto e no médio prazo no quesito econômico e, consequentemente, no social teríamos claro que no curto prazo as variações da inflação e do desemprego nos afetam vigorosamente. No médio prazo acrescentamos o crescimento econômico.

Pois bem, as perguntas que podemos fazer são: quem acompanha a evolução destes agregados com uma visão mais pragmática e crítica para tomar suas decisões, principalmente as políticas? Quantas pessoas sabem quanto crescemos nos últimos vinte anos? Quais foram os índices acumulados de inflação por períodos distintos? Qual é a evolução do desemprego no curto e médio prazo em nossa economia? Poucas pessoas saberiam responder objetivamente, mesmo com o acesso a estas informações estando facilitado pela internet.

Em 2022 nossa economia deverá crescer 2,4%, a inflação será de 6,4% e o desemprego deverá encerrar o ano com uma taxa inferior a 9,5%. Os mais iludidos irão apontar os dedos e dizerem que as coisas estão boas, pois o crescimento é positivo frente a recessão recente que tivemos, a inflação do ano passado foi superior a 10% e está sob controle, inclusive com alguns preços em queda e que o desemprego estava superior a 14%. E eles até terão razão, mas estão esquecendo ou omitindo muitas informações. Ou não sabem disto e ficam reproduzindo frases feitas.

Do ano 2000 até a previsão de crescimento deste ano teremos um crescimento acumulado de 64,8%. Pode parecer muito, mas temos que avaliar os períodos. Se analisarmos períodos dos mandatos presidenciais o atual será o segundo pior dos últimos 22 anos, ou seja, dos últimos cinco mandatos. Só não é pior do que o do período Dilma/Temer. Numa perspectiva mais abrangente, no período de 2003 a 2012 (10 anos) crescemos 45,5%. Já no período de 2013 a 2022 deveremos acumular um crescimento de 3,8%.

Também temos que lembrar que nos últimos vinte anos já tivemos inflação anual inferior a 3% e que uma inflação de 6,4% é muito para nossa economia. E que nos últimos dez anos o desemprego já esteve abaixo de 6,5%. Portanto, os indicadores previstos para o ano de 2022 não são tão bons assim. Podem representar uma retomada frente ao cenário recente, mas não é para se entusiasmar muito.

Neste ano ficamos felizes com a queda do preço dos combustíveis e da energia elétrica, mas poucos lembram que aumentaram vertiginosamente nos últimos anos. Os chamados preços administrados apresentarão deflação neste ano de 4%, mas as expectativas apontam elevação de seus preços em 6% em 2023, 3,6% em 2024 e 3,3% em 2025. O que estamos tendo de alívio neste ano será recomposto nos próximos anos.

Os benefícios sociais que estão surgindo no presente terão seus impactos nas contas públicas e serão compensados com menos auxílios no futuro próximo. Isto implicará em menos gasto público para o pagamento da dívida contraída no presente. Não tem mágica.

E o pior de tudo é que não temos nenhuma proposta concreta de solução efetiva para estes problemas. Pelo contrário, as propostas são genéricas e não abordam soluções efetivas para nossos reais problemas. Sabemos o que nos afeta. Só não sabemos quem resolverá os problemas.


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