domingo, 29 de novembro de 2015

O nosso “mito da caverna”

Geralmente os agentes políticos apresentam números e medidas econômicas, financeiras, sociais e administrativas com o objetivo de ressaltar suas respectivas gestões e mostrar para os eleitores que eles foram a melhor coisa que poderia ter surgido para o país, estado, município ou instituição. É como que sem eles nada teria acontecido e a população deveria agradecer a sua existência e continuar votando neles.

Os números e medidas apresentados podem até serem verdadeiros, mas dependendo de como eles são manipulados podem distorcer a realidade e induzir a população a ter impressões diferentes das reais sobre os fatos e eventos ocorridos. Como no “Mito da caverna” de Platão, apresentado em seu livro “A República”. Esta passagem do livro explica como as pessoas podem ser iludidas com falsas impressões e falsas verdades.

Com a divulgação destes dados muitas pessoas acabam acreditando que estão diante de grandes gestores e que eles devem continuar no poder. Isto não quer dizer que todos os gestores usam desta estratégia para autopromoverem suas gestões, existem muitos exemplos de gestores públicos competentes e que, através da elaboração de políticas públicas e gestão eficiente, melhoraram a vida das pessoas. Mas também existem os “picaretas”, aqueles que não conseguem desenvolver boas políticas públicas e mesmo se as tivessem não possuem capacidade gerencial para implementá-las e executá-las com eficiência.

Mesmo os dados verdadeiros podem nos induzir a compreender os fatos de forma distorcida. Por exemplo: posso afirmar que a economia brasileira cresceu 36,8% nos últimos quatro anos? Sim, posso. Posso, porque esse foi o crescimento do PIB nominal no período. Agora se considerarmos a inflação dos diversos segmentos econômicos veremos que o crescimento real da economia no período foi de 8,8%. Da mesma forma prefeitos podem divulgar os números do orçamento de seu mandato e comparar com os antecessores e afirmar que ele aumentou a arrecadação do município, dentre outras informações que podem ser “maquiadas”. Isto é comum e acontece diariamente.

Mesmo dados ruins podem ser divulgados como sendo bons. Acreditem, é verdade. Por exemplo: o governo do estado do Paraná divulgou que o estado possui a segunda menor taxa de desemprego do país, segundo pesquisa divulgada pelo IBGE. É verdade. Uma verdade inconveniente, pois quem analisar os dados da pesquisa verá que o desemprego no estado é o segundo menor em termos relativos, sim, porém se compararmos a taxa de desemprego divulgada com a do mesmo período do ano passado veremos que a taxa de desemprego comparativa aumentou 50,7%. Portanto temos uma das menores taxas de desemprego relativa do país, mas temos a quarta maior evolução no aumento do desemprego nos últimos doze meses. Essa é uma verdade inconveniente, também.

Desta forma, é evidente a possibilidade de se criar sombras e ilusões, alterando a verdade, isto é, apresentando verdades distorcidas. Como na história apresentada pelo filósofo grego Platão, somos os prisioneiros e temos que fugir desta caverna apresentada por pessoas que querem nos encantar.

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