domingo, 10 de novembro de 2019

“E o salário, ó”


As notícias recentes do desempenho da economia brasileira estão deixando os governistas eufóricos. Mas não é para menos, pois os juros e a inflação estão em níveis baixos e há uma grande promessa de economia de recursos públicos por conta da reforma da Previdência aprovada e da PEC’s “Emergencial” e a “DDD”.

Também tem uma proposta de reforma administrativa que mexe com as carreiras do funcionalismo público, que promete reduzir os privilégios e cortar despesas com pessoal no governo federal, e um novo programa de ajuda a estados e municípios endividados.

Só faltou o crescimento econômico, que para estes deve ser somente um detalhe, como o gol o é para o futebol. Lembrando que nossa economia, por falta de crescimento econômico não consegue reduzir o desemprego, que atinge 12,5 milhões de pessoas, e nem a população subutilizada, que atinge 27,5 milhões de pessoas.

Há muitos mitos e omissões nas informações divulgadas pelos militantes governistas oficiais e pelos militantes virtuais. Os juros estão caindo, sim. Mas não é por causa de nenhuma ação de política econômica do governo. Os juros estão caindo no mundo todo como uma forma de estimular as respectivas economias. Os juros básicos reduziram nos Estados Unidos, Zona do Euro, China, Índia, Rússia, África do Sul, Brasil, México, Chile, Coréia do Sul, Austrália, Nova Zelândia, Indonésia, Filipinas, Malásia, Dinamarca, Ucrânia e Arábia Saudita.

Não há méritos do governo brasileiro na queda dos juros, mas sim um acompanhamento da nova temporada de cortes de juros pelos Bancos Centrais de muitos países.

A política de valorização real do salário mínimo também não está sendo gerida com crescimentos reais significativos há muito tempo. Assim, a renda média real do trabalho assalariado está com tendência de declínio.

Se combinarmos baixo crescimento econômico, desemprego e subutilização elevados e salários reais menores só pode resultar em inflação baixa. A inflação brasileira acumulada nos últimos 12 meses fechou em 2,54%, medida pelo IPCA, e 2,55%, medida pela INPC. A diferença destes dois índices de preços é que o primeiro mede a inflação para famílias que possuem renda média entre 1 a 40 salários mínimos e o segundo mede a inflação para famílias que possuem renda média entre 1 e 5 salários mínimos.

Se analisarmos a inflação para as famílias com rendas menores e analisarmos a inflação desagregada por grupos ou itens veremos informações que não são para se comemorar. O índice geral acumulado em 12 meses apurou inflação de 2,55%, porém o grupo de alimentos e bebidas teve um aumento médio de preços de 3,19% com destaque para o feijão carioquinha que teve um aumento de preços de 32,16% no período, o macarrão com 4,56%, a batata inglesa com 51,59% e o repolho de 12,78%, somente para citar alguns.

Os gastos com habitação teve uma inflação acumulada no período de 3,02%, o transporte público de 6,05%, saúde e cuidados pessoais de 3,05% e os gastos com educação de 4,55%. Isto demonstra que a inflação para as famílias mais pobres apresentou um impacto muito maior em suas respectivas rendas do que a inflação para as famílias com rendas maiores, considerando os itens mais necessários e mais consumidos.

É inequívoco que as coisas ainda não estão melhorando e o salário mínimo e as aposentadorias terão reajuste pelo índice geral apurado através do INPC. Isto significa que os pobres tenderão a ficarem mais pobres com a atual política econômica brasileira. Assim, temos que concordar com o professor Raimundo quando diz “e o salário, ó”.

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