domingo, 12 de janeiro de 2020

O discurso e a ação


A economia brasileira está retomando o crescimento econômico. De forma tímida, lenta, mas está. E quando as coisas estão melhorando muitos oportunistas tentam avocar a responsabilidade pelos fatos positivos. Este é o comportamento natural dos nossos agentes políticos de plantão.

Isto não é uma crítica à política, até porque ela faz parte da condição humana. Falamos e precisamos de política desde a Grécia antiga, quando ela se colocava como forma de aliança dos indivíduos em torno de uma finalidade comum e específica. Naquela época esta aliança somente era possível por meio de duas atividades humanas: a práxis (ação) e a lexis (discurso).

Já na Grécia antiga estas duas práticas eram essenciais para a realização da política. Porém, no curso da história humana podemos identificar claramente que a lexis tomou conta da política e a práxis ficou esquecida. Se fizermos um contraste com a nossa atualidade iremos verificar que fica cada vez mais evidente a prevalência da lexis sobre a práxis. E isto ocorre de forma mais contumaz nos municípios.

O que mais vemos e ouvimos nos municípios do Brasil afora são discursos e promessas, porém quando precisamos das ações, das práticas, não acontece. Agora que estamos às vésperas do processo eleitoral municipal começam a ressurgir das cinzas os eternos candidatos com a simpatia costumeira e temporal, que acontece de quatro em quatro anos. O mesmo acontece com os atuais detentores de mandatos eletivos, principalmente os vereadores.

Começam a ser mais presentes nas redes sociais, discursam sobre as intenções de propostas para melhorias da condição de vida dos munícipes e tentam justificar o que aconteceu nos últimos anos. Tentam impor o ciclo político tradicional. Afinal de contas o que eles querem é somente os votos da população. Se quisessem contribuir para a melhoria da qualidade de vida das pessoas teriam fiscalizado mais as ações do executivo e teriam legislado para implantar políticas públicas para este fim.

É comum os noticiários apresentarem as condições das escolas de muitos municípios sem as menores condições de funcionamento, a precariedade no setor de saúde de outros e os problemas do desemprego e pobreza na maioria deles. E o que os nossos representantes estão fazendo nos legislativos municipais?

A retomada do crescimento da economia ou, pelo menos, a sensação de que a conjuntura econômica está melhorando surge como um grande alívio para prefeitos e vereadores, pois reduz a pressão sobre problemas sociais explícitos, tais como o desemprego.

O país passou por uma profunda crise fiscal ocasionada por irresponsabilidade dos agentes políticos. Com isto, o desempenho da economia se tornou negativo e o desemprego surgiu de forma vigorosa. Agora, com a retomada, muitos agentes políticos locais tentam se beneficiar desta condição e induzir as pessoas a acreditarem que a geração de emprego que está acontecendo é por causa de suas ações políticas. Nada mais é do que uma tentativa de distorcer a verdade dos fatos.

A economia está melhorando, mas muito pouco, ou quase nada, tem relação com qualquer tipo de ação ou política implementada por agentes políticos locais. Estas ações são naturais do mercado e ocorrem a partir das decisões e eventos de política econômica.

Os agentes políticos locais devem ser escolhidos a partir da condição efetiva de poderem executar a práxis e não somente a lexis, pois discursos e boas intenções não melhoram a vida das pessoas. Os agentes políticos devem agir na prática para que isto ocorra e nós, eleitores, devemos nos lembrar disto quando outubro chegar.



Um comentário:

  1. práxis (me beneficiar da teta pública) e a lexis (não me beneficiar da teta pública)

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