domingo, 5 de janeiro de 2020

O morcego e o Saci


Já no final de 2019 estava evidente que a corrida eleitoral estava em pleno curso. Num primeiro momento pelo posicionamento dos pré-candidatos e pelas articulações, elaboração de estratégias e, por que não falar, pelas armações desenvolvidas pelos partidos e pelos agentes políticos. Já em 2020 tudo isto fica mais robusto e as pré-candidaturas vão se tornando mais explícitas e ganham musculatura.

O grande problema que volta de forma cíclica, de quatro em quatro anos, são as estratégias perversas para conquistar os votos dos eleitores. E nesta linha de ação o ciclo político tradicional é lançado, independente de conhecer ou não seu conceito e suas abordagens teóricas.

Na literatura dos ciclos político-econômicos destacamos o Modelo Tradicional Oportunista, onde o economista William Nordhaus foi o pioneiro em sua discussão através de sua obra datada do ano de 1975. Neste modelo o autor define que o único objetivo dos políticos é a maximização dos votos. Assim é entendido que os agentes políticos manipulam a política econômica, tirando-a do nível ótimo, com o objetivo de aumentar a possibilidade de se elegerem ou reelegerem.

No cotidiano da vida das pessoas isto é sabido de forma empírica, pela experiência. É o popular “piorar para depois melhorar”. Ou “colocar o bode fedorento na sala para depois retirá-lo”.

Os agentes políticos não se cansam de efetuar articulações para permanecerem no poder. Pelo menos se cumprissem com as atribuições dos cargos para o qual foram eleitos poderíamos dizer que há fatores atenuantes para suas atitudes políticas. Porém, o que mais inexiste é o efetivo cumprimento das respectivas atribuições.

Vemos que os vereadores, de forma genérica, muito pouco fiscalizam as ações do executivo. Difícil ter notícia de aprovação, nas câmaras de vereadores, de pedidos de informações acerca de alguma atitude, despesa ou plano do executivo. E não adianta se defenderem dizendo que está tudo certo. Não está. Sempre temos notícias de reclamações pela ausência de serviços públicos.

Não há atendimento suficiente e satisfatório para a população dos municípios. A demanda pelos serviços públicos é, via de regra, reprimida pela ação reduzida do setor público na oferta destes serviços. E o grande problema é que a população não tem para quem recorrer para solução justa e perfeita. Quando conseguem uma solução é através de caminhos que ferem o contrato social que deveria estar vigente.

Nesta linha os atuais detentores de cargo de prefeitos, vice-prefeitos e vereadores que irão concorrer à reeleição começam a divulgar ações positivas, anunciar obras e feitos, divulgar a existência de mais recursos para as áreas sociais e mesmo para a infraestrutura. Em suma, em ano eleitoral tudo está uma maravilha. Não existem problemas e os municípios se encontram em franco desenvolvimento. Os problemas anunciados nos primeiros anos de gestão na forma de ladainhas foram superados e é sugestionado que os atuais gestores são excelentes e que devem permanecer nos respectivos cargos.

Mas, independente de quem ganhar as eleições, as ladainhas voltarão nos dois primeiros anos do mandato. E nos dois últimos anos do mandato começam os anúncios de maravilhas e se busca a reeleição ou a eleição de algum apaniguado.

E assim continuamos com o fluxo circular da vida cotidiana que precisa ser rompido com a eleição de pessoas realmente comprometidas com as questões sociais e não apenas com os interesses de seus grupos. Parafraseando a música de Bezerra da Silva, será que para tirar os municípios desta situação, somente quando “morcego doar sangue e o Saci cruzar as pernas”?









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