quarta-feira, 9 de junho de 2021

Sentado à beira do caminho

Estatísticas divulgadas recentemente provocaram euforia nos corredores palacianos. Muitas pessoas começaram a divulgar que a economia brasileira já havia retomado o crescimento econômico e estava a “pleno vapor”. Há quem afirme que já estamos operando com os níveis pré-pandemia. As coisas não são bem assim. Estamos avançando. Porém, ainda estamos muito aquém do ideal.

O anúncio do crescimento do PIB no primeiro trimestre de 2021 em 1,2% colocou os governistas em estado de êxtase. O resultado foi muito bom, tanto que as expectativas de mercado quanto ao crescimento da economia neste ano aumentaram dos 3,96% da semana passada para 4,36% nesta semana. Há quem acredite que o crescimento acumulado no ano possa chegar a 5,5%.

Porém, nem tudo são flores. Não podemos nos entusiasmar e afirmar que o governo está conduzindo a política econômica para viabilizar a retomada do crescimento sustentável. Ele está fazendo algumas coisas que estão contribuindo para isto, mas poderia ter feito (e estar fazendo) muito mais.

Afirmar que estamos operando em níveis do período antes da pandemia é um erro metodológico. Os indicadores não apontam para isto. Embora o crescimento no primeiro trimestre do ano seja muito bom o acumulado nos últimos quatro trimestres apontam para uma queda do nível de atividade em 3,8%. Portanto, ainda há muito para se recuperar. O que impulsionou o crescimento no trimestre citado foi o investimento privado, que cresceu 4,6% em relação ao trimestre anterior, e as exportações agrícolas que impediram que nossa balança comercial fosse muito deficitária no período.

O grande combustível do PIB sempre foi o consumo das famílias que, na média dos cinco anos que antecederam a pandemia, representava 64,4% do PIB. Em 2020 caiu para 62,7% e no primeiro trimestre de 2021 representou 60,2%. É evidente que a descontinuidade do auxílio emergencial foi responsável por esta retração no consumo das famílias. Se não ocorresse a interrupção o resultado poderia ser de um crescimento maior no período. Demorou, mas retomou e este resultado será considerado no segundo trimestre e garantirá um crescimento maior.

Mesmo assim não conseguiremos retornar aos níveis pré-pandemia no curto prazo. Levará mais tempo para isto. Se nossa economia crescer os 4,36% projetados pelo mercado financeiro retornaremos ao nível de PIB real de dezembro de 2019, porém os demais indicadores não retornarão. A análise não é tão simples assim.

Se ampliarmos o escopo da análise desde o segundo mandato de Dilma Rousseff, passando por Temer e chegando em Bolsonaro, de 2014 a 2020 temos um encolhimento do PIB na ordem de 5,9%. Com o crescimento previsto para 2021 ainda teremos uma queda acumulada de 1,8%.

Na mesma linha a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) projeta que o Brasil levará 2,75 anos, ou seja, quase três anos para retornar ao PIB per capita real igual aos níveis do quarto trimestre de 2019. Assim, podemos considerar que este indicador será normalizado somente no final de 2022. Isto se não tivermos nenhuma intercorrência.

O cuidado com a economia inspira muita responsabilidade e atitude. Desta forma, podemos concluir que nossa economia está retomando o crescimento econômico, sim. Porém, há muitas coisas para além do crescimento. Temos que recuperar os empregos e a renda real dos trabalhadores e tirar milhões de pessoas da extrema pobreza. E isto não acontecerá sem uma forte atuação dos governos. Não basta ficar sentado à beira do caminho. Ainda tem muita coisa a ser feita.

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