quarta-feira, 1 de março de 2023

Saltando aos olhos

As discussões recentes sobre decisões de política econômica em nosso país se resumiram no embate acerca dos juros elevados mantidos pelo Banco Central do Brasil e pela volta (ou não) da tributação federal sobre os combustíveis. Há opiniões para todos os gostos e preferências e podemos afirmar que, a depender dos argumentos, todos estão corretos.

A análise dos eventos deve estar fundamentada na teoria econômica que sofre influência doutrinária. Todas as opiniões podem ser acolhidas por uma ou outra teoria econômica. Com dizem: “vai pelo gosto do freguês” ou do analista de plantão. Por conta disto é natural a existência de divergências entre a ala técnica e a ala política do governo ou mesmo dentre os técnicos.

Na questão dos juros o entendimento é muito simples: o Banco Central tem como objetivo manter a inflação dentro do intervalo da meta e para isto deve utilizar o nível de juros básico da economia. Quando a tendência de inflação está em alta, aumentam os juros e vice-versa. É uma análise fria e objetiva. Nesta análise não estão focando a inflação deste ano, mas sim a inflação do próximo ano. 

A inflação deste ano vai ficar acima do intervalo da meta, não tem muito o que fazer. Por conta disto as decisões acerca dos juros estão mirando a inflação de 2024. Como a expectativa está muito próxima do teto da meta o Banco Central mantém os juros elevados para “forçar” a inflação futura a diminuir. Não estão errados se considerarmos o sistema de metas de inflação que está consagrado mundialmente desde o início da década de 1990.

A “bronca” do presidente Lula e da ala política do governo é que juros altos diminuem o investimento e o consumo das famílias e, no conjunto, diminuem o ritmo de crescimento da economia. Paralelamente a isto, com juros maiores o serviço da dívida aumenta, o governo paga mais juros e o déficit nas contas públicas tende a ser maior, podendo gerar um cenário de irresponsabilidade fiscal.

Para solucionar esta questão a solução simples e prática sugerida é aumentar a meta de inflação. Assim o Banco Central pode diminuir os juros, diminui o ritmo de rolagem da dívida e o governo tem um fôlego para gastar além do que arrecada. É uma solução que tem respaldo da teoria econômica.

No caso da reoneração dos combustíveis a ala política receia a repercussão negativa, uma vez que os preços subirão muito e a população já está sofrendo muito com a inflação vigente. Isto pode gerar uma redução na popularidade do governo Lula e muitas manifestações contrárias, além de dar argumentos para a oposição. A ala técnica defende a volta dos impostos para aumentar a arrecadação e reduzir o déficit projetado nas contas públicas, dando mais respaldo para a gastança desenfreada do governo.

Os argumentos dos dois lados possuem respaldos na teoria econômica, mas existem outras alternativas que também possuem o mesmo respaldo. Se o governo teme a redução do crescimento com os juros elevados assim como teme um aumento da inflação e queda na popularidade do governo por causa da volta dos impostos sobre os combustíveis é possível encontrar outras ferramentas de política econômica para solucionar esta complexa equação econômica.

Aqui mesmo, neste espaço, já foi comentado sobre isto: o governo precisa se reinventar. Precisa melhorar a qualidade do gasto público, que é ineficiente e ineficaz. Há despesas que podem ser reduzidas e há a necessidade de se fazer uma profunda reforma administrativa. A solução está saltando aos olhos do governo, mas parece que eles não querem enxergar.


0 comentários:

Postar um comentário